02 de novembro | 2014

A eleição parece que continuou para alguns

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Do Conselho Editorial

Pelo clima de beligerância, pelos conflitos, pelas dúvidas lançadas na mídia e aquecidas nas redes sociais, a impressão que se tem é a de que as eleições não terminaram, continuam e com um nível de a­gres­sividade que chega a chocar os que nunca viram tanta falta de civilidade antes.

Geralmente as eleições no Brasil deixam de ser motivo de discussão assim que o resultado é divulgado.

Afora, é lógico, casos mais gritantes onde é solicitada a presença da justiça eleitoral, onde são levadas ao conhecimento do Ministério público ou da Justiça eleitoral fatos que transbordam do que é permitido em lei.

Na maioria dos casos, o eleito assume e a vida segue sua rotina, nos outros casos a justiça se encarrega de investigar e julgar, se improcedente a causa, muitas vezes fica no imaginário como mais um dos inúmeros casos de falta de punição, se procedente, há cassações de candidaturas, novas eleições, nada que não seja perfeitamente assimilado pela maioria sem grandes manifestações de fúria.

O que se nota desta ultima eleição levada a efeito no Brasil é que duas correntes mostraram suas faces e a que vieram.

Uma delas, a que foi perde­dora do pleito, deixou evidente sua vocação para o neolibe­ralismo, corrente que advoga a diminuição da interferência do  Estado e políticas públicas ortodoxas visando claramente benefícios ao capital e prejuízos à classe trabalhadora, por advogarem a ideia de combate a inflação com diminuição do poder de compra através dos salários e alta dos juros.

A esta corrente se alinhou a terceira colocada, contaminada pela visão capitalista que assumiu o discurso que tanto abominara nos seus anos de rebeldia e luta e can­didatos a presidente dos chamados partidos nanicos, cujo comprometimento parece ser muito mais com o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, denominado Fundo Partidário, que com o pa­ís.

Para os que brigam contra o financiamento público de cam­panha é sempre bom notar que o Fundo Partidário é constituído por dotações orçamentárias da União, multas, penalidades, doações e outros recursos financeiros que lhes forem atribuídos por lei.

Do outro lado, a corrente que defende uma visão mais socialista de mundo, contrária ao choque de gestão que gera desemprego e pode multiplicar as diferenças sociais.

Formada, esta corrente, que conta com o apoio de candidatos a presidente de partidos nanicos que observam o mundo pela ótica da discussão social e pelo viés ideológico, ajudaram a que fosse demarcado o território de discussão entre a volta do capitalismo selvagem e a implantação de uma república comunista.

Exageros, a parte, levando-se em conta que as grandes países que faziam parte do bloco comunista, China e Rús­sia, são hoje expressões máximas do capitalismo voltados ao interesse de mercado e ao consumo, o discurso acaba abraçando pessoas cujo volume de informação é notoriamente diminuto.

E por ter esta dificuldade de compreensão tanto do universo político quanto das ques­tões que envolvem a questão macroeconômica de uma nação da envergadura desta que ocupa o lugar de sétima economia do mundo, prestes a recolher dividendos fabulosos do pré-sal, distribuem pérolas e lugares comuns, além de preconceito e ódio nas redes mundiais.

Não bastasse o ódio ao partido a que está filiada a presidente, a própria e ao ex-presidente também filia­do ao partido, estão alimentando verdadeira e abjeta campanha de ódio aos eleitores e filiados do partido.

Coisas absurdas estão sen­do postadas nesta e noutras searas.

Repentinamente se ressuscitou a ideia separatista de sul e norte que levou a uma das maiores vergonhas deste pais, a Revolução Constituciona­lis­ta  de 1932, ou Guerra Paulis­ta, movimento armado ocorrido no Estado de São Paulo entre julho e outubro de 32, e que tinha por objetivo a derrubada do governo provisório de Getulio Vargas.

A revolução tinha por desculpa a promulgação de uma nova constituição para o Brasil, o que se sabe, não era verdadeiro, o que estava por trás daquele movimento, além do preconceito, era o retorno da liderança da política do café com leite, que alternava a presidência da república entre São Paulo e Minas.

Getulio era gaúcho e havia rompido a alternância São Pa­ulo e Minas.

E o que pode estar por trás da insuflação, visto que os atores sociais despojados do poder são do circuito Minas e São Paulo, e que os que levaram a disputa contaram com o beneplácito dos eleitores do nordeste pode haver uma indicação ai que a busca pelo osso retirado pode ter relação com 1932.

A visão distorcida e pre­con­cei­tu­osa em relação ao norte e nordeste personificada nas opiniões ridículas e sem nexo em relação ao Bolsa Família e o direito ao e­xer­cício da cidadania pelo voto que se pretende retirar dos que recebem o beneficio chega a beirar a loucura.

Agora, não bastasse o candidato derrotado, em verdadeiro despropósito, em parceria com o jornal Estadão, para ajudar a amplificar a sistemática campanha de apartheid protocolou na justiça eleitoral pedido de auditoria das eleições.

Coloca em dúvida a lisura do pleito, coloca em dúvida a seriedade do Tribunal Superior Eleitoral com o objetivo condenável de colocar suspe­ição, não, nas eleições, e sim no adversário talvez por entender que as redes sociais vão multiplicar estas dúvidas e por inocência, como no caso dos nordestinos, ou do Bolsa Família, vão atribuir ao partido a dúvida sobre a lisura do pleito e não a justiça que o conduziu.

É uma pena, que o Brasil e o brasileiro estejam tão divididos por inverdades, por interesses contrariados, e que es­ta manipulação continue após as eleições travando discussões de maior interesse para a sociedade que ao invés de estar estimulando separações e dis­tanciamento entre irmãos de raça, deveria estar pregando a união e o futuro com cobranças sérias que conduzissem ao que prega a nossa constituição no tocante a dignidade humana, que foi desrespeitada antes das e­leições, durante, e continua sendo tratada como subpro­duto de uma sociedade dividida, até agora.

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