01 de janeiro | 2016

2016 apitando na curva, 2015 abanando a mão na janela do trem da vida

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Do Conselho Editorial

2015 fez as malas, está na plataforma vendo os espirais de fumaça do trem que trará um novo período para a humanidade subindo na direção do azul do céu.

Traz seus últimos suspiros, recolhe uma lágrima aqui um suspiro acolá, o berreiro de uma criança que observa pela primeira vez a luz do sol, o silêncio de um velho enfermo que se despede no fundo de uma enfermaria.

Ouve pelas últimas vezes o estrondo de bombas destroçando corpos nos estados islâmicos, metrôs da Europa, tiros ceifando vidas nas escolas dos EUA, e elefantes, zebras e búfalos pisando macio nas pastagens Masai Mara enquanto urubus espreitam criança famélicas no mesmo e abandonado Quênia.  

Árvores gigantescas e iluminadas enfeitam New York, Londres, Paris e Rio, o capital econômico vende a ideia da prosperidade e do sonho enquanto mendigos adormecem debaixo de grandes luminosos que anunciam a fartura e o grande progresso da humanidade.

Ali na plataforma um ano se distanciando de si mesmo enquanto outro se aproxima trazendo outras lamas de Minas ou atentados de outros Charles Hebdô, e tantos Obamas virão aos olhos do ano que passa vendendo uma democracia mentirosa e sangrenta como a paz das ogivas nucleares.

O trem que vem apitando na curva traz na sua bagagem os mesmos e truculentos policiais militares que sovam estudantes e professores, os mesmos políticos corruptos, as mesmas gangues dos arrastões e a mesma classe média infecta brasileira que grita contra o caos que eles criaram.

O ano que se vai leva anotações surpreendentes de mudanças significativas no cenário mundial; a China não é mais a mesma, idem a Grécia, Es­pa­nha nem se fale e Brasil está chegando lá.

O trem de 2016 até onde se pode visualizar dos passageiros que mostram olhos na janela não será um mar de felicidades, nem todos morrerão na praia.

Estaciona um e outro zarpa buscando céu infinito e nunca mais retorna.

Os seres humanos que constroem o dia da sociedade, que tece, compõem os fatos dos quais se abastece, a cronologia vai a cada ano, independente do progresso científico e do avanço tecnológico demonstrando a cada folhinha que acaba que está reduzindo seu conhecimento ao invés de ampliá-lo.

Anda muito difícil, complexa demais, a convivência humana no planeta, não há como não crer que a barbárie vai se instalar muito em breve.

Noção de brevidade para o histórico poderia ser muitos anos, ocorre que o mundo tem evoluído em trinta anos o que não evoluía em trezentos, daí a razão para se preocupar com a crescente onda de intolerância que vêm crescendo no universo.

E, no bojo desta onda uma preocupação ego­cên­tri­ca com a preocupação do espaço conquistado através do econômico, na Europa a discriminação com que e­ram tratados os estrangeiros aos brasileiros parecia comum, este ano que se vai, mostrou uma face cruel do povo cordial no tratamento dispensado aos haitianos.

E o que geralmente está por trás deste inconcebível preconceito é a garantia de vagas no mercado de trabalho, tanto aqui como lá, que vem alimentando o fortalecimento e o renascimento de correntes nazifascistas no mundo todo e, o ano que se despede deixa atrás de si a certeza de que isto infelizmente será o debate a ser travado pela sociedade brasileira.

E outros debates virão, como a crise econômica, crise política, moral, ética, corrupção enquanto elefantes, rinocerontes, zebras e leões pastam tranqui­lamen­te no Masai Mara, 2016 encosta na plataforma e começa a tirar suas ferramentas para ajustar o início do que será 2016.

Apesar de não se poder acreditar que este ano será melhor que os outros, ele não será, de forma alguma, pior para todos, como sempre foram todos os anos, razão que deveria ser mais que suficiente pa­ra aqueles que estiverem bens em sua vida, estendessem a mão, ou entendessem a penúria do outro, seja aqui, lá ou acolá, Londres, Paris ou Bagdá.

Só desta forma e maneira o mundo poderá melhorar, pois o mundo é feito de seres, entre eles os humanos, que se humanos não forem, continuarão vendo o trem partir e chegar trazendo as mesmas velhas e tristes bagagens que acenam para tempos que poderiam ser felizes se felicidade estivesse morando na vontade e no desejo de todos.

 

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