20 de julho | 2016

Tia de jovem morto pela polícia de Bebedouro afirma que sobrinho levou um tiro pelas costas, outro na barriga e teve esgotamento sanguíneo

Compartilhe:

A tia do jovem Marcos Vieira Júnior, 18 anos, (na foto, com o pai ao fundo) que foi morto pela polícia militar em Bebedouro na noite do último domingo, Cristiane Santos, em entrevista ao repórter Valter Carucce, na rádio Espaço Livre, na terça-feira, 19, declarou que seu sobrinho morreu em razão de ter tido esgotamento do seu sangue provocado pelos disparos que recebeu e que um deles, inclusive, foi pelas costas.

Juninho, como era conhecido em Olímpia, chegou a ser velado em Olímpia na segunda-feira, mas seu corpo foi tirado do velório e levado para Barretos para exame necroscópico. Só voltou na tarde do dia 18 e foi enterrado na manhã de terça-feira, 19, no cemitério São José em Olímpia.

Para comprovar o possível esgotamento sanguíneo, Cristiane Santos apresentou ao jornalista da Espaço Livre o atestado de óbito de Juninho onde consta que ele morreu por “choque hipovolêmico, ação perfurocontundente, disparo de armas de fogo”.

Segundo apurado no site www.tuasaude.com, “o choque hipovolêmico é caracterizado pela perda de grandes quantidades de sangue e líquidos, o que pode levar à morte em poucos minutos. Uma das causas do choque hipovolêmico é a hemorragia, mas, outras situações, aparentemente menos graves, também podem gerar este tipo de choque. Para o seu tratamento, recomenda-se a reposição de líquidos (soro, sangue) o mais rápido possível”.

Juninho chegou com vida ao hospital Julio Pinto Caldeira em Bebedouro, mas acabou morrendo pouco tempo depois. Seu atestado de óbito foi assinado pelo médico Maurício Moreto. Consta ainda no atestado que ele deixou uma filha de apenas 11 dias.

Cristiane Santos começou sua entrevista dizendo que o pai de Juninho, Marcos Vieira, foi lá (Bebedouro) liberar o corpo e ficou sabendo que o tiro foi pelas costas e que seu filho morreu porque “morreu esgotado” e não por parada cardíaca como falaram. “Colocaram muita bolsa de sangue nele, mas ele não resistiu por causa disso, porque ele sangrou muito”.

E continuou: “O Juninho mora em Olímpia, nasceu em Olímpia. Ele estava em Bebedouro há dois anos, com a tia dele. Nasceu aqui e sempre morou aqui com a minha irmã e foi morar em Bebedouro onde conheceu a companheira dele agora. Sempre foi amoroso com todos nós. Se ele errou tem que pagar. Não estamos aqui pra passar a mão na cabeça do Juninho. Mas não que pagasse com a vida. Ele tinha apenas 18 anos. Todos estão falando mal dele no facebook em todas as redes sociais; que ele era um bandido; que graças a Deus mais um morreu e foi pro inferno. Não gente. Se ele errou que pague, mas na cadeia, porque ele tem mãe, tem pai, tem tia e a gente está sofrendo. Hoje, a gente enterrou ele porque não fizeram autópsia em Bebedouro”.

Walter Carucce – porque a informação que a gente teve foi de que ele tinha sido socorrido pelo resgate do Corpo de Bombeiros, levado para o hospital e submetido a cirurgia e aí o próprio médico teria assinado o atestado de óbito e liberado o corpo para trazer para Olímpia. E aí a polícia de Bebedouro tinha vindo buscar de volta. Como é que foi isso tudo? O corpo já estava preparado? Já estava sendo velado?

Cristiane Santos: Ele chegou às 8 horas de ontem (segunda-feira, 18). Aí a gente começou a fazer o velório dele. Já estava no velório quando, por volta das 10 horas da manhã, chegou a funerária aqui de Olímpia dizendo que tinha que levar o corpo do Juninho para Barretos. Perguntamos o porquê. Então o pessoal da funerária de Bebedouro disse que iam ter que fazer a segunda autopsia nele, que a primeira não tinha sido feita direito. Levaram o corpo do Juninho por volta das 10h30 e ele voltou por volta das 2:40 para a gente fazer o velório. Não foi enterrado às 5 horas da tarde de ontem (segunda-feira, 18) e passou para hoje (terça-feira, 19) às 8h30. Tá aqui o laudo o atestado de óbito dele que o pai dele buscou, ta alegando qual foi a morte dele.

Walter: O atestado de óbito que a Cristiane está me entregando está dizendo o seguinte: Marcos Vieira Junior, natural de Olímpia, filho de Marcos Vieira e de Elaine Cristina dos Santos. Residente e domiciliado na Viela Nair, n. 81, no centro de Bebedouro. Data do falecimento 18/07/2016 às 00h45, no Hospital Julia Pinto Caldeira de Bebedouro. Causa da Morte: Choque Hipovolêmico, Ação Perfurocontudente, disparo de arma de fogo. Médico que atestou o óbito: Mauricio Moreto. Agora essa História de que o tiro, como é que vocês da família receberam essa informação (…) vocês já tinham conhecimento que ele tinha alguma participação nesse tipo de crime ou foi uma surpresa para todo mundo?

Cristiane: Uma surpresa para todo mundo. Porque está todo mundo em casa e a Kimberli, minha irmã estava em casa e de repente começou a chegar muito áudio no Whatsapp e no Facebook falando que ele tinha falecido. A minha irmã ligou para o pai dele e ele tava no serviço e não estava sabendo de nada. Aí a gente ligou para a companheira dele, que é a Luana; ela também não estava sabendo de nada. Foi aquele monte de informação chegando e por volta da meia noite que um amigo dele confirmou a morte dele para nós.

Valter: Esses companheiros que estavam com ele vocês conheciam? Eram amigos deles?

Cristiane : Não conhecia, não tinha contato com nenhum.

Valter: E o Juninho, que tipo de função ele tinha. Você falou que ele tava casado, amasiado. Qual era a profissão dele? O que ele fazia para sobreviver?

Cristiane: O Juninho dependia do pai, não tinha serviço. Ele ajudava o pai a soldar e foi morar em Bebedouro e ficou lá morando com a tia dele; dependia da tia e do pai.

Valter: De onde saíram essas informações de que os tiros foram pelas costas? Quem afirmou isso?

Cristiane: O que estou sabendo é que o pai dele foi ao hospital reconhecer o corpo do filho dele e de lá saiu a noticia que o tiro foi pelas costas; pelo laudo que fez lá o tiro foi pelas costas. Não foi pela frente como estão dizendo (…), furou o baço dele.

Valter: Diante disso tudo, o que a família do Juninho pretende fazer daqui para frente.

Cristiane: Não sei. Seria com meu ex cunhado Marquinho. Porque a minha irmã está sem condições. Tão falando muito mal dele, só criticando ele, e hoje o Juninho não está aqui para se defender.

Valter: O que você pode falar a respeito do Juninho para as pessoas que só estão recebendo a informação que o menino de Olímpia, que tava tentando assaltar uma casa em Bebedouro e foi morto pela policia? Quem é o Juninho? Conta para a gente.

Cristiane: Marcos Vieira Junior, um menino que tinha apenas 18 anos, maravilhoso, amoroso, comigo, com os primos, com os avós, com pais, com sua filha linda, Rebeca Lais que tem doze dias, que nasceu aqui em Olímpia. Sua amásia mora em Severínia e nasceu a filha dele há doze dias. E para você ver que ele não é pessoa tão ruim que as pessoas estão desenhando, foi ele que registrou, foi ele que deu banho, foi ele que fez o teste do pezinho, foi ele que levou para tomar a primeira vacina, foi o Juninho que cuidou da Rebeca Lais, porque a companheira dele tava de cirurgia, foi ele que cuidou dela esses onze dias que o Juninho viveu com a filha dele. Foram os melhores dias da vida dele, porque ele foi muito apaixonado por essa filha. Só peço que se alguém quiser criticar, respeite a dor da minha irmã, respeite a dor do meu cunhado, que tá sofrendo muito,  pois perdeu seu primeiro filho dele de 18 anos, morreu na flor da idade. Só peço que respeite a dor da minha irmã, a dor da nossa família. Morava com a minha irmã na Cisoto e estudava na escola Dalva Vieira. Foi criado aqui em Olímpia, criado com nós. Foi morar em Bebedouro há dois anos e conheceu ali em Severínia a companheira dele, Luana Neves, e teve a Rebeca Lais que está com 12 dias. O Juninho assumiu, registrou a criança, eles não moravam juntos estavam esperando uma melhora pra vir morar aqui em Olímpia, pra gente dar apoio a eles dois.

A HISTÓRIA OFICIAL

Marcos Vieira Junior, de 18 anos, conhecido como Juninho, filho de Marcos Vieira que reside em Olímpia morreu após ser atingido por um tiro na barriga e o outro perto dos órgãos genitais.

Segundo a polícia de Bebedouro, Juninho estava participando de um roubo no domingo, por volta das 19h38, na rua presidente Kennedy, no bairro Ciranda, onde residem Edson Aparecido, 57 anos e Alessandra Andréia, 40 anos, quando acabou sendo atingido por um tenente da PM.

Os outros acusados do roubo e que estariam com Junhinho são Mateus de Souza Guimarães, natural de Monte Azul Paulista, 21 anos, morador de Bebedouro; Alan Carlos Aparecido Gueredo, 23 anos, natural e residente em Severínia, mas também com endereço em Bebedouro; e Samuel Augusto Nogueira, natural de Olímpia, 21 anos, morador em Severínia.

Segundo consta no Boletim de Ocorrências da Polícia Civil de Bebedouro, a PM foi acionada sobre roubo a residência e as equipes de serviço da polícia de Bebedouro foram até o local. Ao entrarem na residência, as vítimas abriram a porta da sala relatando que quatro indivíduos estavam no interior da casa e, ao ser vistoriado o local, foi localizado um simulacro de arma de fogo tipo uma pistola.

O acusado Alan, segundo a polícia, saiu correndo pela garagem sendo detido na praça que fica na frente da casa. Também no interior da residência foi localizada a arma calibre 38, inox, com três munições intactas.

Os outros três indivíduos fugiram pelos fundos da residência, escalando telhados de várias casas vizinhas e, segundo a polícia, Mateus foi localizado e detido em cima do telhado da casa do vizinho; já Samuel foi localizado no banheiro de uma  outra residência.

No momento em que os autores estavam sobre as casas, um deles efetuou disparos de arma de fogo e após os três autores citados já estarem detidos, a equipe da Força Tática chegou e os outros policiais militares iniciaram vistorias em algumas residências. Em uma delas localizaram no fundo da residência, em um corredor sem saída, Marcos Vieira Junior que, segundo a polícia, portava uma arma de fogo em suas mãos e que em ato continuo apontou a arma em direção do primeiro tenente PM Rodrigo.

O tenente, então, teria feito dois disparos na direção do Juninho e aí teria gritado para que ele largasse a arma. Juninho, segundo a polícia, caiu no solo, sendo que o policial em questão tirou a arma dele com os pés.

De acordo com o BO, Juninho se encontrava consciente e, de imediato, foi solicitado uma unidade do bombeiro no local que teria socorrido Juninho consciente e conversando.

Sendo levado para o hospital de Bebedouro, horas depois, veio a falecer em virtude dos ferimentos na barriga e próximo ao órgão genital.

No local, apareceu o delegado de plantão bem como a perícia.

A arma que Juninho usava era de calibre 32, municiada com quatro cartuchos intactos. No local dos fatos também foi encontrado a quantia de R$ 1.300,00 em dinheiro, uma corrente dourada e um controle magnético. Foi apreendido uma arma de calibre 40 da marca Taurus e um carregador que estava nela e mais 13 munições que pertencem ao primeiro tenente Rodrigo.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas