03 de novembro | 2024
Psiquiatra afirma que Olímpia convive com o aumento de casos de ansiedade e depressão
TRANSTORNO PSÍQUICO?
A exposição a estímulos digitais e a falta de autocuidado agravam a ansiedade e a depressão. Em entrevista ao podcast Pod Pai e Filha, o médico psiquiatra João Paulo Cristófalo detalha os transtornos mais comuns e a importância do acompanhamento profissional.
No podcast Pod Pai e Filha, transmitido pela Rádio Cidade FM, Youtube e Facebook, o psiquiatra João Paulo Cristofalo abordou as crescentes questões de saúde mental em Olímpia.
Segundo ele, a procura por tratamento para ansiedade e depressão tem aumentado nos últimos anos, impulsionada por fatores modernos como exposição intensa a estímulos digitais e falta de práticas de autocuidado.
“As pessoas ficam expostas a uma quantidade enorme de informações e cobranças, que sobrecarregam a mente e o corpo”, explicou Cristofalo.
TRATAMENTO SEM MEDICAMENTOS
Ele destacou a busca urgente de muitos pacientes por uma solução rápida para os sintomas de ansiedade, lembrando que o tratamento nem sempre é medicamentoso. “Precisamos investigar o motivo da ansiedade e tratar a causa, não apenas mascarar os sintomas”, comentou, ressaltando a importância de uma avaliação detalhada que considere até deficiências vitamínicas.
Cristofalo pontuou as diferenças entre ansiedade e depressão: a ansiedade provoca uma constante preocupação com o futuro, enquanto a depressão gera uma perda de interesse nas atividades diárias. “A ansiedade, em excesso, pode levar a crises de pânico, enquanto a depressão afeta o prazer nas atividades habituais”, afirmou.
O PAPEL DO CAPS EM OLÍMPIA
O psiquiatra destacou o papel fundamental do CAPS de Olímpia, que atende cerca de 800 pessoas mensalmente. O centro oferece consultas psiquiátricas, acompanhamento psicológico e oficinas de artesanato, que ajudam na socialização e tratamento dos pacientes. Ele ressaltou as dificuldades em diferenciar o que é estritamente psiquiátrico e o que é social, pois o CAPS atende frequentemente pessoas com problemas sociais, como desemprego e ausência de apoio familiar.
Entre os transtornos mais comuns, Cristofalo mencionou depressão, ansiedade, transtorno de personalidade, bipolaridade e esquizofrenia. Ele explicou que a esquizofrenia, embora menos comum, demanda um acompanhamento contínuo devido à sua natureza genética. “A esquizofrenia atinge aproximadamente 1% da população, e o tratamento é prolongado”, observou.
USO DE SUBSTÂNCIAS
E IMPACTO NA SAÚDE MENTAL
Outro tema abordado foi o impacto do uso de substâncias, especialmente entre adolescentes. Cristofalo apontou o consumo de maconha como um possível gatilho para o desenvolvimento de transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, em pessoas geneticamente predispostas. Ele alertou ainda sobre o impacto do sedentarismo e do uso excessivo de redes sociais na saúde mental.
O psiquiatra explicou também como o uso constante de dispositivos eletrônicos, como celulares e computadores, afeta diretamente o sono e a saúde mental das pessoas. Segundo ele, a luz azul emitida por esses aparelhos bloqueia a produção de melatonina, o hormônio que regula o sono, dificultando que o corpo entre em um estado de descanso adequado. “Muitas pessoas ficam até tarde da noite em frente ao celular ou à televisão, e isso engana o cérebro, fazendo-o acreditar que ainda é dia. Como resultado, a produção de melatonina é atrasada e a qualidade do sono fica comprometida”, detalhou.
IMPACTO DO SONO
NA SAÚDE MENTAL
Cristofalo comentou que o sono interrompido ou de baixa qualidade tem um efeito cascata na saúde mental, agravando sintomas de ansiedade e depressão. “Quando não dormimos bem, o cérebro não consegue realizar suas funções de ‘limpeza’ e reorganização necessárias durante o sono profundo, o que contribui para o aumento do estresse e da irritabilidade durante o dia”, explicou. Ele ressaltou que esse problema é especialmente comum entre adolescentes, que tendem a passar horas usando dispositivos eletrônicos antes de dormir.
O psiquiatra abordou também a influência dos dispositivos digitais no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Ele afirmou que a exposição precoce às telas, especialmente em crianças pequenas, pode contribuir para o aumento dos diagnósticos de transtornos como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e autismo. “A exposição contínua a vídeos e jogos com sons e cores intensos cria um padrão de estímulo muito alto, tornando difícil para a criança se concentrar em atividades que não oferecem o mesmo nível de estímulo”, explicou.
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
E USO DE TECNOLOGIA
“O cérebro das crianças precisa de estímulos variados para se desenvolver de forma equilibrada. Quando elas ficam presas apenas às telas, outras áreas cerebrais acabam sendo pouco estimuladas, o que pode gerar dificuldades de concentração e aprendizado no futuro”, afirmou.
Para Cristofalo, é fundamental que os pais imponham limites e supervisionem o uso de dispositivos eletrônicos por parte das crianças e adolescentes. Ele citou diretrizes médicas que recomendam que crianças com menos de dois anos não sejam expostas a telas e que crianças e adolescentes mais velhos tenham limites de tempo para o uso desses dispositivos. “Os pais devem lembrar que a tecnologia não deve substituir atividades fundamentais para o desenvolvimento infantil, como brincar ao ar livre e interagir com outras pessoas”, disse.
REDES DE APOIO E RECUPERAÇÃO
Ele ainda destacou a importância de os pais se manterem atentos ao conteúdo que os filhos consomem. “Muitos aplicativos e plataformas contêm conteúdos impróprios para a faixa etária, e há até casos de crianças em contato com grupos de autoagressão em redes sociais. Os pais precisam monitorar de perto para garantir a segurança dos filhos”, alertou o psiquiatra.
Além do tratamento médico, Cristofalo ressaltou a importância das redes de apoio, tanto familiares quanto sociais, no processo de tratamento de transtornos mentais. Ele explicou que a presença de familiares e amigos que compreendem a situação do paciente e oferecem apoio emocional pode fazer uma diferença significativa na recuperação.
REDUÇÃO DO ESTIGMA
NA PSIQUIATRIA
“A solidão e a falta de apoio agravam os sintomas de ansiedade e depressão. Ter uma rede de apoio ajuda a pessoa a se sentir acolhida e compreendida, o que é essencial para o bem-estar mental”, afirmou.
No entanto, ele observou que muitos pacientes enfrentam dificuldades em compartilhar seus problemas de saúde mental com pessoas próximas devido ao estigma ainda presente na sociedade. “Infelizmente, muitos ainda associam a psiquiatria à ‘loucura’, o que faz com que as pessoas hesitem em procurar ajuda e, muitas vezes, evitem falar sobre seus problemas com amigos e familiares”, explicou.
A PSIQUIATRIA
E A QUALIDADE DE VIDA
Ao final da entrevista, Cristofalo destacou que a psiquiatria não se resume ao tratamento de doenças graves, mas também ao cuidado com a qualidade de vida, ajudando os pacientes a atingirem seu potencial máximo em diversas áreas.
Ele explicou que muitos de seus pacientes não procuram ajuda apenas para tratar transtornos, mas também para melhorar aspectos como o foco e o desempenho em atividades diárias. “A psiquiatria pode ajudar a pessoa a viver melhor, a dormir bem e a alcançar uma saúde mental estável e equilibrada”, comentou.
CONSULTA PSIQUIÁTRICA REGULAR
E NOVAS TECNOLOGIAS
O especialista aconselhou que, assim como as pessoas realizam exames médicos regulares para prevenir doenças físicas, elas também deveriam considerar uma consulta periódica com um profissional de saúde mental.
Cristofalo comentou, ainda, sobre o papel da tecnologia na psiquiatria e o que ele espera para o futuro da prática médica com o uso de inteligência artificial e telemedicina. “Hoje, a tecnologia ajuda a registrar as consultas de forma mais precisa e facilita a comunicação com o paciente, especialmente em atendimentos online”, disse.
FUTURO DA PSIQUIATRIA
E ACESSO AMPLIADO
“Acredito que, no futuro, a psiquiatria será uma área altamente assistida pela tecnologia, o que pode tornar o atendimento mais acessível e eficiente, mas o contato humano continuará sendo essencial”, ponderou.
Ao final, Cristofalo fez uma recomendação à população de Olímpia e a todas as pessoas que enfrentam desafios de saúde mental: procurar ajuda sem hesitar. “Buscar ajuda profissional não é um sinal de fraqueza, mas uma atitude consciente de cuidado e prevenção. A saúde mental deve ser vista com a mesma importância que a saúde física”, afirmou o psiquiatra.
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