02 de fevereiro | 2025

Proibir celular não resolve se os pais deixam a criança usar cinco horas seguidas em casa

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CELULARES NAS ESCOLAS!

Educadora Débora Garofalo, primeira brasileira no top 10 do “Nobel da educação”, defende que a proibição pode ser um primeiro passo, mas não substitui a necessidade de educar para o uso consciente da tecnologia.

A proibição do uso de celulares nas escolas através de leis Estadual e Federal que já estão em vigor, reacendeu o debate sobre o papel da tecnologia no ensino. Enquanto o governo defende que a medida visa proteger a saúde mental dos estudantes, especialistas alertam que a simples proibição não resolve o problema.

Para Débora Garofalo, educadora com 19 anos de experiência e primeira brasileira a figurar no top 10 do Global TeacherPrize, o uso de celulares pode ser um aliado em escolas públicas onde a infraestrutura de informática é deficiente.

“Não dá para falar em proibição, que é uma ação radical, sem educar verdadeiramente as crianças para um uso consciente da tecnologia”, afirma Garofalo. “A proibição pode ser um passo inicial para retomar o controle da sala de aula, mas não pode ser um fim.”

Ela ressalta que muitos estudantes da rede pública não possuem acesso a computadores em casa e que os celulares podem representar uma ferramenta importante de inclusão digital e aprendizagem.

GOVERNO DEFENDE PROIBIÇÃO
PARA PROTEGER ESTUDANTES

A nova lei determina que os celulares sejam proibidos em sala de aula, com exceção de uso pedagógico ou por necessidade de acessibilidade. O ministro da Educação, Camilo Santana, citou estudos apontando que o uso excessivo das telas pode levar a ansiedade e depressão, e afirmou que a medida atende a uma demanda dos professores.

Durante a sanção, Lula elogiou a iniciativa e destacou a importância de “cuidar das crianças”, para que possam interagir mais e reduzir o isolamento digital.

ESCOLAS TERÃO DESAFIOS
PARA FISCALIZAR A MEDIDA

A implementação da proibição traz desafios práticos. Segundo Garofalo, as escolas terão dificuldades para fiscalizar o cumprimento da lei, especialmente porque o celular é um objeto pessoal do aluno.

“Como as escolas vão garantir que os alunos não estejam com os aparelhos? Vamos criar caixas na entrada para recolher os celulares? E se sumir? Quem será responsável?”, questiona a educadora.

Outro ponto levantado por Garofalo é a falta de profissionais para garantir o cumprimento da norma. “A escola já tem um quadro reduzido de inspetores e funcionários de apoio. Criar mais uma regra para ser fiscalizada sobrecarrega ainda mais as equipes.”

USO DO CELULAR EM CASA
AINDA É UM PROBLEMA

A proibição na escola pode não ter efeito se não houver um controle adequado em casa. “Não adianta proibir o celular em sala de aula se, ao chegar em casa, a criança passa cinco horas seguidas no aparelho sem nenhuma orientação dos pais”, alerta Garofalo.

Ela defende que a questão não pode ser tratada apenas no ambiente escolar e que as famílias devem ser orientadas sobre os riscos do uso excessivo de telas.

PERIGO DO ABISMO DIGITAL

Outro risco apontado pelos especialistas é o aumento da desigualdade digital entre alunos da rede pública e privada. “Uma pesquisa de 2022 mostrou que 71% dos estudantes do ensino fundamental público não têm acesso à internet em casa”, explica Garofalo.

Para a educadora, se os celulares forem completamente proibidos, os alunos da rede pública podem perder oportunidades de aprendizado e inclusão digital, ficando em desvantagem em relação aos que estudam em escolas particulares.

ALTERNATIVAS PARA O PROBLEMA

Para resolver o problema de distração em sala de aula sem prejudicar o aprendizado, Garofalo defende que as escolas adotem uma abordagem mais equilibrada, com regras claras e educação para o uso consciente.

“Os estudantes hoje aprendem de maneira diferente. Eles não precisam mais copiar tudo no caderno, podem tirar fotos e acessar informações de forma digital. Proibir o celular sem oferecer alternativas não resolve o problema.”

INVESTIR EM INFRAESTRUTURA

Ela também aponta que é necessário investir em infraestrutura tecnológica nas escolas públicas, garantindo que os alunos tenham acesso a computadores e internet para desenvolver habilidades digitais essenciais para o futuro.

“O mundo está evoluindo tecnologicamente, e a educação precisa acompanhar esse processo”, conclui Garofalo.

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