02 de fevereiro | 2025

Proibição ou moderação? Especialistas analisam os efeitos da restrição de celulares nas escolas

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SALA DE AULA SEM CELULAR?
Especialistas avaliam impactos da nova lei e apontam os desafios para escolas e pais.

Com a nova lei estadual que restringe o uso de celulares dentro das salas de aula e a sanção da lei federal sobre o tema, a discussão sobre os impactos da medida ganha força. Especialistas destacam os desafios e benefícios da proibição, além de apontarem caminhos para um uso mais consciente da tecnologia no ambiente escolar.

De um lado, a proibição busca reduzir distrações, melhorar a concentração e promover interações sociais mais genuínas. Por outro, há quem defenda que os celulares, quando bem utilizados, podem ser aliados do aprendizado. A polêmica levanta um debate sobre a necessidade de educar, e não apenas restringir.

Logo que foi aprovada a Lei Estadual sobre o tema, esta Folha ouviu profissionais da área sobre o assunto.

FOCO NO APRENDIZADO
OU CONTROLE EXCESSIVO?

O psicólogo e terapeuta cognitivo-comportamental Josimar Foganholi vê a nova legislação como um mecanismo para equilibrar os impactos positivos e negativos da tecnologia. “O celular facilita o acesso à informação e pode até auxiliar em terapias. Mas o uso excessivo pode gerar ansiedade, dificuldade de concentração e até isolamento social”, explica.

A neuropsicopedagoga Claudia Caetano concorda e acrescenta que a pandemia intensificou a hiperconectividade entre os jovens. “O uso descontrolado de telas tem causado prejuízos emocionais e sociais. Muitos adolescentes se tornam cada vez mais distantes e introspectivos devido ao VT (vício em tela)”, alerta.

O PAPEL DOS PAIS
NA EDUCAÇÃO DIGITAL

Claudia também ressalta que a responsabilidade pelo uso excessivo dos celulares não é apenas dos jovens. “Pais que passam muito tempo no celular influenciam diretamente o comportamento dos filhos. Eles refletem esse hábito. É preciso ensinar que há momentos adequados para tudo”, pontua.

A especialista acredita que apenas proibir o celular não resolve o problema. “É um primeiro passo, mas precisamos educar. Tanto a escola quanto os pais devem ensinar um uso equilibrado da tecnologia. Essa mudança precisa começar agora”, defende.

OS ARGUMENTOS
A FAVOR DA PROIBIÇÃO

A medida conta com o apoio de profissionais que defendem um ambiente escolar livre de distrações digitais. Para Foganholi, a proibição pode incentivar uma socialização mais ativa e melhorar a concentração dos alunos. “Sem celulares, há menos distração e mais interação real. Além disso, diminui-se o risco de cyberbullying e o acesso a conteúdos inapropriados durante as aulas”, explica.

Estudos recentes indicam que o uso excessivo de dispositivos digitais prejudica o desempenho escolar e pode elevar os níveis de estresse. Assim, a proibição aparece como um instrumento de proteção à saúde mental e ao aprendizado dos estudantes.

RESISTÊNCIA E DESAFIOS
NA IMPLEMENTAÇÃO

Apesar dos argumentos favoráveis, a aplicação da lei pode encontrar resistência entre alunos e pais. “Muitos pais enxergam o celular como um meio essencial de comunicação em emergências, e alguns alunos podem perder acesso a ferramentas educacionais úteis”, observa Foganholi.

Outro obstáculo é o impacto da medida em escolas que já adotam o celular como recurso pedagógico. Para Claudia, o ideal é um meio-termo. “A tecnologia pode ser uma aliada se utilizada com responsabilidade. Não se trata de eliminar o celular, mas de estabelecer regras claras para seu uso”, reforça.

EDUCAÇÃO DIGITAL:
O CAMINHO PARA O EQUILÍBRIO

Ambos os especialistas concordam que apenas proibir os celulares nas escolas não resolve a questão da dependência tecnológica. O foco deve estar na educação digital e na conscientização sobre o uso saudável da tecnologia.

“É preciso ensinar os jovens a utilizarem os dispositivos com responsabilidade. Isso envolve estabelecer horários, priorizar interações presenciais e incentivar pausas regulares no uso de telas”, aconselha Foganholi.

Claudia complementa que o envolvimento dos pais é essencial. “Se os pais não controlam o uso dos celulares em casa, a escola não conseguirá sozinha. É um esforço conjunto”, finaliza.

O FUTURO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

A proibição dos celulares nas escolas abre um debate maior sobre o papel da tecnologia na educação e no desenvolvimento dos jovens. Embora a medida busque melhorar o ambiente escolar, o verdadeiro desafio é ensinar o equilíbrio no uso dos dispositivos.

“A tecnologia não é uma vilã. Ela é uma ferramenta, e o que faz a diferença é como ela é usada. O caminho é a educação digital para garantir que essa ferramenta seja usada para construir, e não para prejudicar”, conclui Foganholi.

A nova legislação é apenas o começo de um debate necessário. O desafio agora é encontrar formas de garantir que a tecnologia seja usada de maneira consciente e produtiva dentro e fora das escolas.

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