07 de setembro | 2014

Pacientes da UPA podem continuar morrendo por falta de UTI

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A exemplo do que aconteceu na madrugada da segunda-feira, dia 1.º de setembro, quando houve a morte do motorista Pablo Fabiano Rosa, de 38 anos de idade, morador de Severínia, que faleceu por volta das três horas da madrugada a espera de uma vaga, os pacientes da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), sejam eles de Olímpia ou de qualquer outra cidade da região, vão continuar morrendo por falta de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Com sintomas de um enfarto, Pablo Fabiano Rosa estava aguar­dando uma vaga em UTI através da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS), em São Paulo, mas a vaga não surgia e ele acabou morrendo.

Pelo menos é essa conclusão que se pode chegar a partir de uma declaração dada à reportagem desta Folha da Região, pelo provedor da Santa Casa de Olímpia, Mário Francisco Montini (foto). No início da noite de quinta-feira, dia 4, embora no final de junho negasse qualquer possibilidade de fechamento, pela primeira vez ele admitiu que a cidade e a região, poderão ficar sem UTI.

“Eu vou reabrir somente se os municípios da região cumprirem os compromissos deles de ajudar nos custos de terminar a reforma e ajudarem nos custos da manutenção que é de R$ 90 mil por mês. Se eles não ajudarem nós vamos suspender a reabertura da UTI”, declarou.

De acordo com Mário Francisco Montini, os municípios tinham um compromisso com a diretoria da Santa Casa de ajudar a entidade tanto na reforma quanto na manutenção da UTI, mas até agora não cumpriram. “Se eles não cumprirem os serviços vão ficar suspensos”, avisa.

Além disso, quando perguntado se até pacientes de Olímpia poderiam ficaria sem esse atendimento ele respondeu claramente: “Fica sem UTI. Nós só temos hoje o atendimento interno do hospital. Nós não vamos oferecer o serviço para os municípios”.

Segundo conta o provedor, assim como o município de Olímpia em relação à UPA “os municípios da região nunca contrataram com a Santa Casa os serviços de UTI”. Nós atendíamos sem receber e sem ter nenhum retorno”, acrescentou.

Entretanto, embora a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) não possa utilizar a UTI da Santa Casa, Montini informou que a Prefeitura de Olímpia contratou e está pagando o serviço.

CENTRAL DE REGULAGEM

Quando do fechamento do setor para a reforma, em relação à UPA, no final de junho Montini contou que foi realizada uma reunião em que ficou acertado, inclusive com aval da Direção Regional de Saúde (DRS), de Barretos, que os serviços de UTI a partir de lá devem ser procurados através do CROSS, que é uma central de regulagem de vagas em São Paulo.

Por outro lado, na ocasião Montini nega qualquer possibilidade de a UTI não reabrir após a reforma e permanecer fechada definitivamente.

Inclusive dando até um tom político para a questão, ele alegava que a possibilidade de fechamento era apenas conversa de quem tem intenção de prejudicar o hospital: “Isso é porque tem gente leviana que tem interesse em dizer as coisas, do tipo quanto pior melhor”.

REFORMA ADMNISTRATIVA

Até em razão dos prejuízos, no final de junho Montini falava reforma administrativa da UTI e até em deixar de receber pacientes encaminhados pela UPA: “Nós não vamos mais receber pacientes. Chegou paciente na UPA aí é problema da secretária. Ela que tome as providências necessárias”, afirmou se referindo a buscar vagas em hospitais da região no centro de controle.

“Não vamos aceitar também depois o que ela faz. Tem paciente que não é da competência da Santa Casa atender, manda (UPA) pra a Santa Casa e nós que temos de fazer a remoção depois. Essa é outra coisa que vamos ter de disciplinar porque senão os custos acabam ficando com a Santa Casa”, afirmou à época.

De acordo com o provedor era ne­cessário fazer uma reenge­nha­ria de custos e tentar diminuir o prejuízo que variava entre R$ 70 mil e R$ 80 mil por mês, mas que agora já está estimado em até R$ 90 mil, aproximadamente.

Também de acordo com o que ele divulgou na oportunidade, a Prefeitura Municipal de Olímpia, através da Secretaria Municipal de Saúde, repassa a quantia de R$ 14 mil por mês referente aos atendimentos do SUS (Sistema Único de Saúde), mas o custo total da UTI chega a ser de entorno de R$ 130 mil por mês.

Segundo o entendimento do provedor, a UPA teria que encaminhar os pacientes para outro hospital: “A gente acaba aceitando pra atender o paciente. O problema é que nós não temos recurso para isso. Nós não temos contratado esse serviço”.

A mesma situação está relacionada com as demais Prefeituras dos outros municípios da Co­marca de Olímpia, que também não estariam pagando pelos atendimentos de UTI porque não têm contratos. “Não ajudam”, enfatizava o provedor.

Severinense morre na UPA à espera de uma vaga em UTI

O motorista Pablo Fabiano Rosa, de 38 anos de idade, morador da Rua Miguel Galib Tannuri, número 270, em Severínia, faleceu por volta das três da madrugada da segunda-feira, dia 1.º de setembro, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Olímpia, a espera de uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Segundo o boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia de Olímpia pelo enteado de Pablo, Eder Fernando Bena, de 30 anos, o motorista passou mal na tarde do domingo, dia 31, e inicialmente foi levado para o pronto socorro de Severínia.

No entanto, não houve melhora depois do primeiro atendimento e o motorista foi transferido para a UPA, em Olímpia, onde reclamava de dores no peito.

Estava sendo aguardada uma vaga em UTI através da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS), em São Paulo, mas a vaga não surgia e ele acabou morrendo por volta das três horas.

REFLEXO DA FALTA DE CONTRATOS

Embora ninguém faça uma afirmação categorizada, essa morte pode ser reflexo da falta de contratos de prestação de serviços de UTI com a Santa Casa de Olímpia.

Isso porque, como se recorda, no final de junho próximo passado, o provedor Mário Francisco Monti­ni afirmou à reportagem desta Folha da Região, que cortaria os atendimentos de casos que eram encaminhados pela UPA, justamente porque há mais de dois anos o hospital vinha trabalhando de graça.

Aliás, segundo ele, um problema que perdurava praticamente desde que foi inaugurada às vésperas do período eleitoral de 2012, pelo prefeito Eugênio José Zuliani.

Na ocasião, Montini informava que a UPA, na verdade, estava gerando prejuízos para a Santa Casa, mandando para o hospital atendimentos que não eram da Santa Casa.

Mas a mesma situação de não haver contratos já chegava aos municípios da microrregião de Olímpia, principalmente, uma questão sempre reclamada pela diretoria da Santa Casa, que vinha enfrentando sérios prejuízos.

Esse prejuízo era causado pela ausência de contrato para determinados atendimentos. “O problema é que os atendimentos mais urgentes eles querem mandar tudo para a Santa Casa e a Santa Casa não tem esse contrato para atender determinados casos”, observava Mon­tini à época.

Mais cara reforma de UTI não tem prazo para ser concluída

Com um custo cinco vezes maior do que o valor anunciado anteriormente, a reforma da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Olímpia, não tem mais prazo estipulado para ser concluída. A expectativa inicial do provedor Mário Francisco Montini era de que os serviços fossem concluídos no prazo de aproximadamente 70 dias, mas esse tempo já está praticamente descartado.

De acordo com o provedor, a reforma vai demorar além dos 70 dias que eram esperados por ele. “Acredito que não será possível porque a reforma teve de ser ampliada porque as paredes estavam todas estragadas”, afirmou.

Em entrevista que concedeu a esta Folha da Região no início da noite da quinta-feira, dia 4, Montini contou que a reforma que inicialmente estava prevista para custar entre R$ 30 mil e R$ 50 mil, agora tem um orçamento de aproximadamente R$ 150 mil.

O problema é a falta de recursos financeiros para completar o trabalho necessário para adequar o local da UTI às exigências de segurança e de higiene. “Saiu R$ 30 mil (convênio através de deputado), mas vamos gastar uns R$ 150 mil lá. R$ 30 mil não da para fazer nada. Nós quebramos tudo lá”.

PAREDES REVESTIDAS

Montini informou que está sendo feita a reforma do telhado e que foram retirados todos os rebocos das paredes que foram rebocadas de novo. Além disso, as paredes que antes eram apenas pintadas receberão um revestimento próprio para garantir a higienização do local. “Vamos revestir todas as paredes. Antes eram pintadas e agora vamos colocar esse revestimento”.

Os vidros com visão para o corredor interno do hospital também foram retirados: “Fechamos tudo e agora nós vamos por ares condicionados novos. São dois aparelhos grandes. Os R$ 30 mil que vieram não dão nem para por o ar condicionado lá”.

Além de trocar todos os equipamentos, como, por exemplo, as camas que serão novas e já estão sendo adquiridas. Além disso, o local também receberá um novo forro que será adequado as normas de segurança e de higiene.

Como se recorda, o risco da disseminação de uma infecção hospital grave por causa das péssimas condições estruturais, levou a diretoria a decidir pelo fechamento da UTI da Santa Casa de Olímpia para essa reforma.

A UTI tem cinco leitos exclusivos para atender a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) e dois para os pacientes de convênios e particulares. Tam­bém de acordo com o provedor o fe­chamento temporário foi comunicado à Diretoria Regional de Saúde (DRS), de Barretos, à Secretaria Municipal de Saúde e, inclusive ao CROSS (Centro de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), em São Paulo, departamento encarregado do geren­ciamento de vagas em todos os hospitais da região.

No entanto, não está havendo prejuízos a pacientes de cirurgias. Isso porque foi montada uma sala especial com equipamentos de UTI para atender os casos pós-cirúrgicos que necessitem de maiores cuidados.

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