15 de dezembro | 2024

O impacto do uso excessivo de celulares: da proibição nas escolas ao ‘cérebro podre’

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Especialistas discutem os efeitos da tecnologia no ambiente escolar e na saúde mental dos jovens.

Uma nova lei promulgada pelo Governo de São Paulo proíbe o uso de celulares em escolas públicas e privadas do estado. Prevista para entrar em vigor no próximo ano letivo, a medida tem gerado intensos debates sobre seu impacto na educação e na saúde mental dos estudantes.

Enquanto a proibição visa criar um ambiente mais focado e propício ao aprendizado, também há críticas que destacam o valor pedagógico dos dispositivos quando usados com responsabilidade. Nesse cenário, especialistas locais e nacionais analisam os efeitos dessa legislação e discutem soluções para o equilíbrio entre tecnologia e bem-estar.

CELULARES: SOLUÇÃO OU DESAFIO?

Para Josimar Foganholi (foto ao lado), psicólogo e terapeuta cognitivo-comportamental, o impacto da tecnologia depende de como ela é utilizada. “O celular pode facilitar o acesso à informação e até auxiliar em terapias, mas o uso excessivo gera problemas como ansiedade, dificuldade de concentração e isolamento social”, explicou.

Claudia Caetano, neuropsicopedagoga, destacou os efeitos da hiperconexão intensificada pela pandemia. “O uso descontrolado de telas tem gerado prejuízos emocionais e sociais, levando a quadros de vício em tecnologia. Isso afeta não apenas jovens, mas também pais que refletem esses hábitos em seus filhos”, afirmou.

O POSICIONAMENTO DO DIRETOR DO COLÉGIO EDUVALE

Luiz Augusto Zangirolami (foto ao lado), diretor da Escola Eduvale de Olímpia, é favorável à proibição dos celulares durante o período escolar. Ele explicou que, segundo a neurociência, o uso de telas é prejudicial ao desenvolvimento cognitivo na infância e pode afetar a socialização e a concentração em adolescentes. “No ambiente escolar, o celular deve ser usado apenas de forma direcionada e consciente”, disse.

A Eduvale, segundo Zangirolami, busca esse equilíbrio através de uma matriz curricular que inclui disciplinas como pensamento computacional e robótica, em parceria com a Mind Makers. “Essa abordagem visa ensinar o uso consciente da tecnologia enquanto acompanha os avanços digitais”, afirmou.

OS PERIGOS DO “CÉREBRO PODRE”

Um termo que tem chamado a atenção no debate sobre tecnologia e saúde mental é o “brain rot”, ou “podridão cerebral”, eleito como a palavra do ano pelo dicionário Oxford. Essa expressão se refere à deterioração mental causada pelo consumo excessivo de conteúdo irrelevante nas redes sociais.

Estudos apontam que o tempo excessivo em redes sociais está associado a sérios prejuízos à saúde emocional, especialmente em adolescentes. “Conteúdos de baixa qualidade desestimulam a criatividade e criam uma dependência que afeta tanto o intelecto quanto o bem-estar”, explicou o neurologista Fábio Henrique Limonte.

BENEFÍCIOS E DESAFIOS DA PROIBIÇÃO

A ausência de celulares nas salas de aula é vista como uma oportunidade para melhorar a concentração e incentivar interações presenciais. Foganholi destacou que a medida também reduz riscos como o cyberbullying e o acesso a conteúdos impróprios durante as aulas.

Por outro lado, especialistas apontam desafios na implementação da lei, incluindo a resistência de pais e alunos. Muitos consideram o celular indispensável para emergências ou como ferramenta educacional. Claudia Caetano (foto) defende que, em vez de eliminar a tecnologia, é preciso estabelecer regras claras e educar para o uso consciente.

EDUCAÇÃO DIGITAL COMO CAMINHO

Josimar Foganholi e Claudia Caetano concordam que a solução passa pela educação digital. “É preciso ensinar jovens a usarem a tecnologia de forma equilibrada, priorizando interações reais e estabelecendo limites claros”, afirmou Foganholi.

Para Zangirolami, o papel das escolas é fundamental, mas deve ser complementado pela ação dos pais. “Não adianta a escola fazer sua parte se em casa não há controle sobre o tempo de tela”, alertou.

SINTOMAS DA DEPENDÊNCIA DAS REDES SOCIAIS

Os sintomas de uso excessivo de redes sociais podem variar, mas alguns sinais são universais. Entre eles estão:

·        Nervosismo quando não se tem acesso à internet ou quando a rede social não funciona;

·        Consultar redes sociais logo ao acordar e antes de dormir;

·        Inquietação ao ficar sem o smartphone ao alcance das mãos;

·        Preferir comunicação virtual a encontros presenciais;

·        Sentir-se mal por não receber curtidas ou feedback online;

·        Utilizar redes sociais enquanto dirige ou realiza tarefas importantes.

COMO REDUZIR O USO EXCESSIVO

Para evitar os efeitos negativos da hiperconexão, especialistas recomendam:

·        Estabelecer intervalos mínimos entre conexões;

·        Evitar o uso de celular durante refeições ou momentos-chave do dia;

·        Desativar notificações automáticas;

·        Reservar momentos para atividades desconectadas, como esportes, leitura ou hobby;

·        Monitorar e limitar o tempo gasto em aplicativos ou plataformas.

FAÇA O TESTE

1.    Quanto tempo você passa nas redes sociais todos os dias?

a) Menos de 30 minutos

b) Entre 30 minutos e 1 hora

c) Entre 1 e 3 horas

d) Mais de 3 horas

2.    Você verifica redes sociais logo ao acordar ou antes de dormir?

a) Não

b) Às vezes

c) Frequentemente

d) Sempre

3.    Você já se sentiu ansioso ou estressado por não poder acessar redes sociais?

a) Não

b) Raramente

c) Às vezes

d) Frequentemente

4.    O uso das redes sociais interfere em suas responsabilidades diárias?

a) Não

b) Raramente

c) Às vezes

d) Frequentemente

5.    Você já tentou reduzir o tempo de uso, mas não conseguiu?

a) Não, nunca tentei

b) Tentei e consegui

c) Tentei, mas não de forma significativa

d) Tentei e não consegui

INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO

·        Maioria das respostas “a” ou “b”: Uso equilibrado;

·        Maioria das respostas “c”: Começo de impacto na rotina;

·        Maioria das respostas “d”: Uso excessivo, com risco para saúde mental.

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