16 de dezembro | 2009

Médium olimpiense processado por livro sobre acidente da TAM

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O médium olimpiense, Woyne Figner Sacchetin, está sendo processado por causa da edição do livro ‘Vôo da Esperança’, que narra o acidente do vôo JJ3054, da Tam, que causou a morte de 199 pessoas, no dia 18 de julho de 2007. A mãe de duas vítimas ingressou com ação na Justiça de São José do Rio Preto para recolher os exemplares e impedir uma nova edição do livro, editado por Sacchetin. Além de suas filhas Júlia Elizabete, de 14 anos de idade, e Maria Isabel Caballero Gomes, de 10, a explosão matou também sua mãe Maria Elizabete Silva Caballero, de 65 anos.

No livro, uma das teses apresentadas é que todos os passageiros morreram na explosão da aeronave porque tinham débito em suas vidas passadas. Eles seriam “os algozes da Gália”, membros de um exército mercenário romano que, 60 anos antes de Cristo, teriam queimados pessoas vivas. “Ontem vocês queimaram seres humanos, hoje veem seus corpos queimados”, diz um dos trechos da obra, editada ao autor, segundo ele, pelo espírito de Alberto Santos Dumont. O livro descreve o acidente aéreo do ponto de vista espírita.

“A providência divina, em sua sabedoria infinita, não colocou neste avião espíritos inocentes, mas almas seriamente comprometidas com um passado de erros”, diz outro trecho. O advogado de Carmen, Marco Aurélio Bdine, afirma que o autor não pediu autorização à família para publicar o livro. “Ele não cita os nomes, mas o contexto deixa claro que se trata da família Caballero”, diz.

Embora não cite nomes, segundo o jornal Diário da Região, de Rio Preto, o livro faz referência a uma avó e duas crianças: “ela saiu do meio das chamas, segurando pelas mãos duas meninas que, antes desesperadas, agora quase sorriam felizes agarradas à mão da avó”.

Menção
O advogado diz que o autor descreve uma das vítimas como “professora aposentada” e natural do Rio Grande do Sul, terra natal de Maria Elizabete. Outra parte diz que “as feições se iluminaram quando reconheceu o moço ao lado: era seu filho, desencarnado (…) vítima de um (…) acidente automobilístico”. De acordo com Bdine, o texto faz uma menção indireta a um dos filhos de Elizabete, morto em grave acidente de trânsito.

De acordo com o que o advogado declarou ao jornal, a família ficou profundamente abalada ao ler o livro. “Todos ficaram desolados ao ler o livro. Eles estão tentando seguir em frente após a tragédia, se tranquilizarem, mas a publicação trouxe todo o sofrimento de volta”, acrescentou.

Além de recolher os exemplares, a ação pede uma indenização no valor de mil salários mínimos – cerca de R$ 465 mil – por danos morais. “Fiz um pedido liminar para que a recolha dos exemplares seja realizada antes do julgamento da ação, que pode demorar”, justificou. O Airbus que vinha de Porto Alegre e pousaria no aeroporto de Congonhas se chocou contra o prédio da TAM Express.

Outro lado
De acordo com o  jornal, procurado pela reportagem, o autor afirmou que não foi comunicado sobre o processo e que não identificou nenhuma das pessoas. “Não tem o nome de ninguém no livro”, alega. Mas ele se recusou a dar mais informações sobre a obra, pois estava viajando e só atenderia o jornal pessoalmente.

No espiritismo, a morte de uma pessoa pode ser encarada como um “pagamento” por uma ação realizada no passado, segundo explica a presidente da União das Sociedades Espíritas de Rio Preto, Nair Rocha Soares. “Acreditamos no princípio da reencarnação. Um espírito tem muitas vidas. O que ele planta em cada uma dessas vidas será colhido depois”, diz.

Segundo a presidente, tais consequências não podem ser encaradas como um castigo, e sim como um resgate da alma. “Se uma pessoa morre nessa encarnação para pagar um erro do passado, isso não é uma punição. O objetivo do espírito é atingir a perfeição. A cada resgate, o espírito fica mais depurado”, acrescenta.

Nair afirma, ainda, que não se pode confundir a idade da pessoa com a do espírito. “É muito comum acharmos injusto quando uma criança morre. Mas não sabemos quantos anos o espírito dela tem e o que já fez durante esse tempo”, explica.

Porém, apesar das explicações da doutrina espírita, Nair diz que a dor diante da morte sempre é grande. “É muito difícil lidarmos com a reencarnação. Mas ao mesmo tempo temos um consolo, pois acreditamos que a pessoa não morreu e que um dia o reencontro irá acontecer”, comentou.

Trechos do livro
“Do outro lado de uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, em prédio pertence à mesma empresa da aeronave, estavam alguns dos soldados do batalhão dos Leões, participantes das carnificinas na Gália […] vários antigos soldados gauleses viram aquela gigantesca massa de metal arrebentando as cercas e muros do aeroporto […]”, conta na página 158. “Ontem vocês queimaram seres humanos, hoje vêem seus corpos queimados”, conta na página 160.

“É a lei da ação e reação […]”, página 167; “a providência divina, em sua sabedoria infinita, não colocou neste avião espíritos inocentes, mas almas seriamente comprometidas com um passado de erros […], página 171; “Esse grupo, de mais de duzentos pessoas comprometidas com o passado de falta de compaixão para com os semelhantes […]”, páginas 172 e 173; Para não deixar qualquer dúvida que o livro trata dos entes queridos, falecidos, dos autores, os seguintes trechos: “Suas feições se iluminavam quando reconheceu o moço ao lado: era seu filho, desencarnado […] vítima de um […] acidente automobilístico”, consta na página 162.

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