03 de novembro | 2024

Médico psiquiatra alerta para os perigos do Zolpidem: “desligador” químico do cérebro

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TODO MUNDO DOPADO?
O Zolpidem não trata a causa da insônia, apenas desliga o cérebro de forma temporária.
Cristófolo destacou que a demanda e os relatos de uso indevido cresceram tanto que, desde agosto, o remédio passou a exigir receita azul, uma medida destinada a reforçar o controle.

O recorte de uma entrevista do podcast “Pod Pai e Filha”, exibido em 30 de outubro, chamou a atenção nas redes sociais ao abordar o uso do medicamento Zolpidem, um sedativo hipnótico. Em sua participação, o médico psiquiatra João Paulo Cristófolo comparou o efeito do remédio a “desligar um computador da tomada” e explicou que o Zolpidem desliga o cérebro de forma abrupta, criando dependência e provocando alucinações.

Cristófolo destacou que a demanda e os relatos de uso indevido cresceram tanto que, desde agosto, o remédio passou a exigir receita azul, uma medida destinada a reforçar o controle. Para muitos, ele virou a “solução fácil” para problemas de sono. No entanto, Cristófolo alerta que o uso inadequado pode provocar consequências sérias, com pacientes realizando atividades perigosas, como dirigir ou fazer compras, sem lembrança dos eventos.

UMA PAULADA QUÍMICA E PERIGOSA

O médico esclareceu que o Zolpidem não é um tratamento para insônia, mas um medicamento indicado para induzir o sono de forma pontual e precisa, sempre com orientação médica rigorosa.

Em um exemplo, ele mencionou um paciente que, sob efeito do remédio, fez pedidos em cinco restaurantes pelo aplicativo de entrega, acordando cercado de alimentos que nem lembrava de ter pedido. Em casos mais graves, há quem saía para dirigir, arriscando a própria vida e a de outros.

Outro problema é que o efeito do Zolpidem dura cerca de cinco horas. Se o paciente desperta nesse período, é comum que desenvolva o impulso de tomar mais comprimidos. “É tão grave que há casos de pessoas que tomam até 30 comprimidos por dia, algo absurdamente perigoso”, enfatizou Cristófolo. Esse abuso pode levar a sérios danos ao sistema nervoso e ao comportamento, com sintomas que vão desde alucinações até amnésia temporária.

MUDANÇA PARA RECEITA AZUL

Diante do uso crescente e perigoso do Zolpidem, a Anvisa determinou que a prescrição do medicamento passe a ser feita com receita azul, exigindo controle mais rígido nas farmácias.

Medicamentos com tarja azul são classificados como de controle especial, indicados apenas em situações específicas e que, assim como os de tarja preta, podem gerar vício. Cristófolo explicou que essa mudança representa uma tentativa de frear o uso indiscriminado.

Para o especialista, a venda controlada pode limitar o acesso indiscriminado, mas o problema é que muitas pessoas ainda usam o Zolpidem como “tratamento” de longo prazo para insônia, o que é incorreto.

“Esse tipo de medicação não trata a causa da insônia, apenas desliga o cérebro de forma temporária”, explicou, reforçando a necessidade de buscar alternativas terapêuticas.

A INSÔNIA
E O USO INADEQUADO DE MEDICAMENTOS

O psiquiatra enfatizou que a insônia é um sintoma que exige uma abordagem médica cuidadosa e não deve ser tratada apenas com remédios.

Segundo Cristófolo, os distúrbios do sono podem ter causas diversas, como estresse, ansiedade e depressão, que precisam ser investigadas. Apenas em situações específicas os sedativos hipnóticos devem ser considerados, e mesmo nesses casos, o uso precisa ser temporário.

De acordo com Cristófolo, muitos pacientes recorrem ao Zolpidem de forma contínua por acreditarem que ele resolverá seus problemas de sono, quando, na realidade, ele só adia o tratamento real.

“Estão se dopando para evitar um tratamento adequado da insônia”, alertou. A dependência gerada pelo medicamento pode levar a um ciclo vicioso, onde a pessoa aumenta as doses progressivamente.

OS RISCOS DO VÍCIO
E DO USO CONTINUADO

O Zolpidem é um dos medicamentos mais viciantes disponíveis nas farmácias atualmente, segundo Cristófolo. Ele explicou que, assim como outros sedativos, o uso repetido leva o paciente a desenvolver tolerância e a necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito. Esse abuso pode resultar em sintomas severos, incluindo ansiedade intensa, delírios e desorientação, além do próprio prejuízo ao sono.

Para alguns, o remédio se torna uma “muleta”, mas é importante lembrar que insônia e outros distúrbios do sono exigem uma abordagem clínica ampla, envolvendo terapias e mudanças no estilo de vida. “É necessário compreender a origem da insônia, pois o uso contínuo do Zolpidem não é a solução. Pelo contrário, ele pode criar um problema adicional.”

EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO
SOBRE O USO DE HIPNÓTICOS

Cristófolo finalizou a entrevista reforçando a importância da conscientização sobre o uso seguro de medicamentos controlados. Ele ressaltou que, enquanto o Zolpidem pode ser útil em situações específicas e por períodos curtos, ele não é um tratamento para insônia. “Precisamos de mais informações para que as pessoas entendam que remédios não são soluções rápidas e seguras para tudo.”

A entrevista completa, disponível nas plataformas do Pod Pai e Filha e nas redes sociais da Folha, gerou uma ampla discussão sobre como a sociedade encara o uso de medicamentos para o sono e a importância de buscar soluções duradouras para problemas de saúde mental e emocional.

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