10 de julho | 2010

Livro reconhece importância da manifestação popular pura

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 Muitas vezes contestadas e até mesmo ignoradas pelos organizadores dos atuais festivais do folclore, as manifestações populares mais puras, ou sejam, aquelas que advém de grupos verdadeiramente folclóricos, ganham reconhecimento internacional em livro lançado recentemente, nos Estados Unidos. Quer dizer, através do trabalho do musicólogo e etnomusicólogo Welson Tremura (foto), a tradição popular regional se globaliza por meio de um livro em língua inglesa.

A obra que proporciona esse intercâmbio cultural é “Brazilian Folia de Reis – With An Open Heart: A Spiritual Journey Through Song” (“Folia de Reis Brasileira – Com o Coração Aberto: Uma Viagem Espiritual Através da Canção”), escrita pelo musicólogo-etnomusicólogo, Welson Tremura, que viveu sua infância em Olímpia.


O autor há 25 anos vive nos Estados Unidos, mas retorna todo ano ao Brasil durante as férias. É professor da University of Florida, onde atua no Centro de Estudos Latino-americanos. É professor de etnomusicologia – ciência da música que envolve antropologia, sociologia e linguística.

Em entrevista ao jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, Tremura diz que o livro “visa redefinir, redescobrir a função das tradições populares brasileiras e a relação do homem com o divino”.

Para ele, por meio da Folia de Reis (festejo católico que mostra a adoração dos três reis magos a Jesus) é possível encontrar traços do grupo que participa dessa festa. E ele foi buscar nas canções, nos textos pronunciados durante a realização da folia, a forma de compreender a região. “É uma viagem espiritual através da canção, uma viagem onde analiso a função das palavras nas orações. É uma interpretação da sociedade através do texto sagrado.”


Segundo Tremura, por meio da palavra musical dessa manifestação cultural e religiosa é possível reconhecer a presença de Deus, da família, dos valores, além de fé, expectativas sociais, gratidão.


“A folia é mais que uma tradição popular. É uma forma de comunicação dos povos com sua própria religiosidade.” Na opinião do musicólogo, a Folia de Reis, mais que uma referência religiosa, é uma referência humana, pelo fato de estar relacionada à união, comunidade. “O espiritual existente é além do religioso. É de solidariedade e outras características humanas que muitas vezes se perdem”, diz.


DE PAI PARA FILHO

A relação do autor com a Folia de Reis vem da infância, principalmente em Olímpia. “Meu pai tocou violino na Folia de Reis.” E a inspiração para o livro veio de tudo que ele viu e viveu na região de Rio Preto. “Me inspirei muito na cidade de Olímpia, onde passei minha infância. É um resgate da minha própria identidade como brasileiro fora do Brasil”.

Na vida adulta, Tremura, que é músico de formação clássica (violonista, maestro, cantor de ópera), sentiu-se motivado a retomar suas origens. “Na vida você faz coisas por razões profissionais e também por aquilo que faz parte do que você é. Me sinto fruto da experiência em Olímpia. Na Festa do Folclore entendi o que era ser brasileiro”.


Durante seu doutorado, o musicólogo já tinha se debruçado sobre o tema do livro. Durante a pesquisa de campo, Tremura esteve em Olímpia, Potirendaba, Rio Preto e Ida Iolanda, todas cidades do interior de São Paulo. Foram três anos colhendo material e mais dois anos de dedicação na escrita do livro.


A obra foi publicada na Alemanha e está à venda na internet. Por enquanto, só há a versão escrita em inglês, mas Tremura pretende investir em uma tradução para a língua portuguesa.


TRADIÇÕES POPULARES

O autor afirma que o Brasil é bastante conhecido no exterior pelas grandes cidades como Rio de Janeiro e Salvador, mas para ele é o interior do País que guarda o brasileiro. “A alma brasileira está nas tradições populares do interior do Brasil. As capitais são centros de oportunidades e o interior é o ponto de encontro das culturas, miscigenação. Identidades são geradas no interior”.

Segundo o professor, a Folia de Reis existe em outros países da América Latina, e apesar da forma semelhante, tem nomes diferentes. Mesmo no Brasil, em uma mesma região, há divergências.

Como exemplo, ele cita os palhaços, personagens da folia. “Há casos em que eles representam os soldados de Herodes e em outros que são os três reis magos disfarçados”.
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