22 de novembro | 2009

Letra do Hino Nacional dificulta trabalho com alunos

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Com a idéia de que se fosse construída atualmente seria muito diferente e, por isso, já teve até quem propusesse uma alteração, a letra do Hino Nacional Brasileiro, escrita por Joaquim Osório Duque Estrada, exige muito dos professores para ser trabalhada com os alunos. Pelo menos essa a impressão que fica ao analisar o resultado do trabalho realizado pela reportagem desta Folha nas últimas semanas.

A opinião mais incisiva foi emitida pelo professor e colaborador desta Folha, Ivo de Souza. Segundo ele, se fosse escrita hoje a letra seria de uma forma bastante diferente. “Sem essas inversões bruscas que são bonitas, mas que levam e dificultam o entendimento do que se quer dizer”, avaliou.

A complexidade da letra dificulta para o aluno decorar. “Tem uma letra muito difícil e muito complexa. Realmente não é fácil decorá-lo por inteiro, mas a insistência vai levar aos lunos, desde que eles passam a conhecer a letra, a entendê-la e saber que é um símbolo da sua pátria”, acres­centa.

O hino, segundo considera o professor Ivo de Souza, que há vários anos atua na Escola Professora Maria Ubaldina de Barros Furquim, representa o povo quando é cantado, pode representar o povo brasileiro em outro país “apenas ao ser cantado, tocado” e pode ainda “trazer toda essa gama de conhecimento para o aluno para que ele possa passar a ter atitudes consideradas mais civilizadas e de patriotismo e de amor ao chão que ele vive”.

O professor João Ricardo Tauyr Vicente, coordenador do Ensino Médio na Escola Dr. Antônio Au­gusto Reis Neves, avisa que o hino precisa ser trabalhado com o aluno desde o início para que consiga aprender a letra.

“Acredito que na quinta série o aluno já tem condições de ir trabalhando o vocabulário, saber os significados dessas palavras dentro da letra. Às vezes você tem a letra e não pode substituir o significado pelo aspecto melódico para relacionar com a música”, observa.

Cantar sabendo

A secretária de Educação, professora Eliana Antônio Duarte Bertoncelo Monteiro, também aponta as dificuldades impostas pela letra do hino e explica que, simplesmente decorar e cantar não é suficiente para formar a idéio de civismo numa pessoa.

“O hino tem a construção de versos na ordem inversa da frase e é de difícil compreensão, algumas crianças e muitas pessoas não procuram conhecer o significado dos raios fulgidos, e outras questões desse tipo, como o raio retumbante. Cantar sem saber o porque está cantando, só por cantar, não traz civismo, se a pessoa entender que esse hino foi composto em um determinado momento do país que aquela era a forma de expressão do momento, a forma literária de expressão, ela vai entender a beleza da letra”, avisa.

A disciplina Música, na qual antigamente os alunos aprendiam o Hino Nacional, desapareceu do sistema de ensino. “O que temos agora é arte no geral, não há uma disciplina que ensine o hino com a compreensão necessária para que possamos cantar, sabendo o que estamos cantando”, acrescenta.

Porém, se trata de uma idéia a ser resgatada e já em estudo pelo Ministério da Educação para que as escolas voltem a ter as aulas de música ministrada por professores específicos. “Com o retorno desse conteúdo programático os alunos aprenderão melhor a cantar o hino e essa lei será aplicada de uma maneira que atinja melhor o propósito de incentivar o civismo”, afirmou.

Jeito com respeito

Porém, além de conhecer a letra do Hino Nacional Brasileiro e saber cantá-lo, há procedimentos a serem adotados pelas pessoas na hora da execução, que na maioria das vezes não são respeitados até mesmo por algumas autoridades. Nem sempre que o hino deve ser cantado, conforme o diretor da Escola Dona Anita Costa, professor Neder Nadruz Filho.

“Na abertura dos jogos deve haver uma diferenciação se vai cantar ou se vai apenas tocar o hino orquestrado porque o brasileiro não sabe a diferença. Quando se toca orquestrado  não se canta e quando é para se cantar tem que ser o hino cantado. Aí sim tem que haver a participação popular”, exemplificou.

De acordo com o Capítulo V, da Lei 5.700, do dia 1.º de setembro de 1971, que trata dos símbolos nacionais, durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio.

Civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corpo­rações. Além disso, é vedada qualquer outra forma de saudação (gestual ou vocal como, por exem­plo, aplausos, gritos de ordem ou manifestações ostensivas do gênero, sendo estas desrespeitosas ou não).

Segundo a Seção II da mesma lei, execuções simplesmente instrumentais devem ser tocadas sem repetição e execuções vocais devem sempre apresentar as duas partes do poema cantadas em uníssono. Portanto, em caso de execução instrumental prevista no cerimonial, não se deve acompanhar a execução cantando, deve-se manter, conforme descrito acima, silêncio.

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