23 de abril | 2007

Início de safra garante volta do ‘carvãozinho’ da cana-de-açúcar

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 Com o início da safra referente ao ano agrícola 2007/2008 nas unidades industriais Cruz Alta na segunda-feira (16) e Guarani e Colina na sexta-feira (20), está praticamente garantida, embora sem previsão para os dias em que ocorrerá, a volta do famoso ‘carvãozinho’ da cana-de-açúcar.

Somente a unidade industrial Cruz de Olímpia vai moer este ano quatro milhões de toneladas de cana-de-açúcar para a produção de 460 mil toneladas de açúcar e 76 milhões de litros de álcool.

Porém, nem tudo é alegria. Um estudo concluído no ano de 2003 pelo médico José Eduardo Delfini Cançado, da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), comprova que a queima da cana-de-açúcar é responsável por um aumento assustador de doenças respiratórias em crianças e idosos. Com a queima de toda a biomassa por longo período, são enviadas à atmosfera inúmeras partículas e gases poluentes, que influem direta e indiretamente na saúde de praticamente todos os habitantes do interior do Estado de São Paulo.

Diversos estudos realizados por pneumologistas, biólogos e físicos, confirmam que as partículas suspensas na atmosfera, especialmente as finas e ultrafinas, penetram no sistema respiratório provocando reações alérgicas e inflamatórias. Além disso, não raro, os poluentes vão até a corrente sangüínea, causando complicações em diversos órgãos do organismo.

Há ainda dados divulgados por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP que mostraram que a queima da cana-de-açúcar na região de Araraquara, cidade localizada a cerca de 180 quilômetros de Olímpia, provoca um aumento no número de internações diárias por asma e hipertensão arterial em hospitais daquela cidade.

Segundo o estudo divulgado, a concentração do popular carvãozinho da cana em suspensão durante o período da queima (safra) da cana é quase o dobro em relação ao período da não-queima (entre safra).

O estudo demonstra que é maior o número de internações durante o período de queima da cana-de-açúcar. No caso da hipertensão, esse número é de 2,82 internações por dia, contra 1,92 na não-queima.

Já para os casos de asma, embora as internações diárias sejam em menor quantidade, a incidência é ainda maior, fazendo com que as ocorrências passem da média de 0,95 por dia para 1,43.

O problema é que a queima da cana, que acontece entre os meses de abril e novembro, provoca a emissão de uma espécie de fuligem, composta por 90% a 95 % de partículas finas ou ultrafinas, que não são visíveis a olho nu.

Quando inaladas pelo ser humano essas partículas atingem os alvéolos pulmonares e a corrente sanguínea provocando uma resposta inflamatória com repercussão sobre o sistema respiratório e cardiovascular.

Para cada aumento de 10 microgramas de material particulado, há também um aumento de 5,67% nas internações por hipertensão e 5,05% por asma.

O estudo indica ainda, que tanto a população urbana como a rural ficam igualmente afetadas pela exposição a uma alta concentração do poluente.

 

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