Pesquisa aponta dificuldades da Geração Z em escrever à mão e elaborar textos complexos. O avanço das tecnologias digitais está transformando a linguagem, mas especialistas alertam para a perda de habilidades essenciais cultivadas por milhares de anos.

A linguagem escrita, um dos maiores avanços da humanidade, está sob ameaça na era digital. Segundo um artigo de Lívia D’Ambrosio, publicado no portal Minha Vida, a Geração Z, composta por jovens nascidos entre os anos 1995 e 2010, enfrenta dificuldades crescentes em dominar habilidades que foram fundamentais para o desenvolvimento humano por mais de 5.500 anos.

Especialistas entrevistados no artigo, como a professora Nedret Kiliceri, destacam que o domínio da escrita manual tem diminuído drasticamente entre os jovens. “A caligrafia é frequentemente ilegível, e muitos não sabem aplicar regras básicas da escrita. Isso é reflexo de uma geração que cresceu cercada por telas e teclados”, explica Kiliceri.

REDES SOCIAIS E O IMPACTO NA LINGUAGEM

Além da caligrafia prejudicada, a Geração Z tem dificuldade em expressar ideias complexas por escrito. Isso é atribuído, em parte, ao impacto das redes sociais, que favorecem mensagens curtas e objetivas. Muitos jovens preferem frases curtas a parágrafos elaborados, um comportamento que reflete a comunicação rápida e sintética dos ambientes digitais.

Pesquisas apontam que essa mudança cultural está impactando a capacidade de redação e clareza ao se comunicar. Para Kiliceri, essa transformação pode enfraquecer a capacidade de pensamento crítico, uma habilidade essencial para o progresso individual e coletivo.

O DESAFIO DA ESCRITA DIGITAL

Um estudo da Universidade de Stavanger, na Noruega, revelou dados alarmantes: 40% dos jovens que abandonaram a escrita manual para focar na escrita digital perderam fluência em apenas um ano. Além disso, muitos relatam desconforto físico ao tentar escrever à mão, com sinais de fadiga rápida e caligrafia pouco legível.

Apesar dessas dificuldades, a Geração Z demonstra grande habilidade em sintetizar informações, destacando-se em formatos curtos e diretos. No entanto, especialistas alertam que essa síntese, embora eficiente em alguns contextos, não substitui a necessidade de construir argumentos mais extensos e complexos.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA RESGATAR A HABILIDADE

A solução para esse problema pode estar na integração de práticas manuais com a escrita digital. “Reservar tempo para escrever à mão ou utilizar métodos híbridos no ensino pode ajudar a manter vivas essas habilidades”, sugere o artigo.

Alguns membros da Geração Z, preocupados com a própria evolução, compartilham em fóruns como Reddit o desejo de resgatar a capacidade de escrita. A abordagem híbrida, que une a praticidade do digital à profundidade do manual, é apontada como um caminho viável para enfrentar o desafio.

UM LEGADO EM RISCO

Se nada for feito, corremos o risco de perder uma habilidade que moldou a história da humanidade. A escrita manual, mais do que uma ferramenta de comunicação, é um reflexo do pensamento e da criatividade. Conforme destaca Lívia D’Ambrosio, “a transformação da linguagem é inevitável, mas cabe a nós preservar o que nos define como seres humanos e nos distancia do mero instinto animal”.

Com o avanço das tecnologias digitais, o desafio é encontrar um equilíbrio que permita o uso eficiente das novas ferramentas sem abrir mão do legado histórico da escrita.

Fonte: Lívia D’Ambrosio, Minha Vida, publicado em 4 de janeiro de 2025.