16 de agosto | 2009
Folclorista se diz humilhado por organização ao deixar palco do 45.º Fefol
O folclorista João Batista Ferreira , Capitão da Congada Chapéu de Fitas, do Jardim Santa Ifigênia, zona norte de Olímpia, afirmou na tarde da sexta-feira, dia 14, que se sentiu humilhado ao deixar o palco oficial do 45.º Festival do Folclore (Fefol), no Recinto de Exposições e Atividades Folclóricas Professor José Sant’anna, praticamente expulso pela organização do evento, na noite da quinta-feira, dia 13. Contrariando o desejo da comissão organizadora, principalmente de palco, o grupo consumiu cerca de 20 minutos para se apresentar, quando o desejado seriam 10 minutos. “Na verdade o nosso grupo se sentiu muito humilhado”, disse.
De acordo com ele, além de ter sido pressionado por um dos membros da comissão, recebeu ameaças de cortar o som do microfone, caso não encerrasse logo sua participação. Os grupos folclóricos, apresentaram-se em no máximo 10 minutos ou um pouco mais que isso, prática estabelecida, forçosamente, diga-se de passagem, após o falecimento do idealizador e criador do festival, professor José Sant’anna.
“Não sei se é por desconhecimento dos apresentadores e do recepcionista, do valor da Congada Chapéu de Fitas e dos grupos folclóricos daqui de Olímpia, como as Companhias de Reis e o Moçambique, que são autênticos. A atitude do apresentador e do recepcionista foi a pior possível para com o grupo. Você vai participar do festival, você prepara uma apresentação, você prepara uma homenagem para a cidade onde mora e gosta e desenvolve trabalho e vê lá, o cara atrás de você, querendo que você corte a sua apresentação, querendo arrancar você do palco na marra e outro falando de cortar o microfone. Isso não é atitude de um festival dessa envergadura”, afirmou.
Até mesmo de segregações racista e social reclamou o congadeiro: “Queremos respeito porque temos muitas dificuldades para manter essa tradição. São essas pessoas simples, pobres e negros na sua maioria, que mantêm a cultura local de pé e que se Olímpia pode dizer que hoje é a Capital Nacional do Folclore e que tem 13 representantes, é graças a essas Companhias de Santos Reis, é graças ao Terno de Congada Chapéu de Fitas e graças ao Moçambique, que, com as suas dificuldades, se superam para que possam se manter de pé”.
O Capitão explica que é o trabalho deles que ajuda a preservar a cultura e passa a imagem positiva do festival e da própria cidade de Olímpia e, situações como a que ocorreu na noite da quinta-feira, além da tristeza que sentem, faz com que os congadeiros, já sabendo do que pode acontecer, ou seja, ter apenas os 10 minutos para se apresentar. “Muitos não gostam de se apresentar aqui”, reforça.
O QUE É O CONGADO?
Na avaliação de João Ferreira, essas pessoas, na verdade, não conhecem o congado e pensam que são somente aqueles 10 minutos que vêem no palco. “Congado tem um grande trabalho por traz. Pode ver o que desenvolvemos a festa de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário, que são quatro dias e a gente trabalho em um período de 13 dias entre novena e levantamento de mastro. Tem toda uma história, tem toda uma tradição”, conta.
Sobre o que acontece no palco do festival, ele pede que os grupos locais sejam anunciados com a mesma pompa que outros, como, por exemplo, os parafolclóricos, quando são relatadas as tradições das danças e folguedos que são mostrados. “Ele (apresentador) tinha que chamar as pessoas e incentivar as pessoas para assistirem as apresentações, para mostrar o que Olímpia tem. Desenvolver e abrir as cabeças das pessoas para aquilo que realmente é cultura e não o contrário”, reforça.
A apresentação teria que ser como acontece com outros grupos, curtas que fossem, mas em vários dias. Da maneira como a Congada é mostrada não há como se ter noção de qual é a importância que a manifestação tem, que teria que ser passada para o público.
“Não temos tempo para contar a história do negro e de como surgiu a Congada, que se divide em quatro partes. Você chega lá e faz aquela apresentação técnica e as pessoas ficam com a imagem de são somente aqueles 10 minutos e não é”, reforça.
Segundo João Ferreira, na época em que o professor Sant’anna era vivo: “não existia isso e se você procurar todos os grupos e perguntar a respeito do professor Sant´anna, tanto os daqui, quanto os de fora, todos respeitam ele”.
Embora tivesse percebido algum problema ainda no palco, quando tentava encerrar a apresentação, o grupo ficou sabendo de toda a situação através de pessoas que estavam ao lado e perceberam a movimentação. De acordo com o que disse, as ações contra o grupo teriam partido de um membro da comissão que identificou apenas com o nome Flávio.
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