O LADO SUJO?
Gravação com o dono da Bravos revela detalhes do maior escândalo ocorrido durante o governo Cunha. Áudios mostram como empresa ligada ao presidente da câmara foi favorecida em licitação.

O áudio divulgado no podcast Pod Pai e Filha, apresentado por Arantes e Bruna, foi gravado meses atrás no estúdio da rádio Cidade, na presença de outra testemunha, quando Rafael, dono da empresa de terceirização Bravos, revelou um complexo esquema de fraudes em contratos de terceirização e um verdadeiro “cabidão” de empregos usado até para calar a boca ou “comprar” o apoio dos vereadores de Olímpia. O áudio expõe manipulação de licitações, cabidão de empregos, retenção de pagamentos e a dificuldade de Rafael em expor sua versão dos fatos na mídia.

Rafael começou seu relato lamentando como sua reputação foi manchada após enfrentar problemas financeiros e a retenção de pagamentos. “Começaram a reter o meu pagamento em março. Eu tinha um caixa, paguei o pessoal,” disse Rafael. Mesmo sem receber novamente no mês seguinte, ele recorreu a um agiota para conseguir pagar os funcionários. “Quando foi no terceiro mês, seguraram de novo. Aí eu não tive como pegar mais ninguém. Eles ficaram me devendo três meses,” contou.

Além dos problemas financeiros, Rafael mencionou um contrato emergencial relacionado a escolas que também não foi pago, resultando em uma punição que o impediu de participar de novas licitações. “O contrato emergencial, quando teve aquele negócio das escolas, não me pagaram aqueles contratos também. Não pagaram,” revelou.

LICITAÇÃO DIRECIONADA
FAVORECE EMPRESA LIGADA
AO PRESIDENTE DA CÂMARA

Rafael revelou detalhes perturbadores sobre um pregão direcionado para uma empresa supostamente ligada ao presidente da câmara. Ele contou como várias empresas foram desclassificadas até que a empresa de Barreira e Kokinho fosse beneficiada, mesmo com documentação irregular. “Inicialmente ficamos em sétimo. Barreira e o Koquinho ficaram em oitavo, atrás de mim. Bom, aí o primeiro já era malandragem, esquema deles. Não apresentou documentação, foi desclassificado,” contou Rafael.

Ele continuou descrevendo como as empresas foram desclassificadas por motivos questionáveis, como a falta de INSS nas planilhas. “Aí caiu na ordem na nossa. Perfeito. ‘Não, tua planilha não bate, tua planilha não tem INSS…’ Precisaram inventar um monte de coisa,” relatou.

Apesar das irregularidades claras na documentação da empresa vencedora, ela foi favorecida. “A empresa deles, só pra você ter uma ideia, pegou um contrato de quase três milhões com capital social de trinta mil reais. Não tinham, na ocasião, o balanço patrimonial registrado na junta,” afirmou Rafael, destacando a falta de requisitos básicos. “Inclusive, você sabe que o Barreira, antes de virar gestor, participou de uma licitação do monitoramento de Olímpia e ele ganhou essa licitação. E apresentou um atestado que foi considerado atestado falso. Isso é crime,” afirmou Rafael. Ele continuou: “O processo fica lá. Não pode sumir. Ou está digital, ou está físico, ele tem que estar lá. E engavetaram quando tinham que ter enviado para o Ministério Público, porque ele ia sair candidato a vereador.”

RETENÇÃO DE PAGAMENTOS
CLASSIFICADA COMO APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Rafael também trouxe à tona a opinião de um advogado de Santos, que classificou a retenção de pagamentos pela prefeitura como apropriação indébita e enriquecimento ilícito. Ele contou que, mesmo com os serviços prestados, não recebeu os pagamentos devidos.

“Uma vez, um advogado em Santos, eu contei a história pra ele. Ele falou: ‘Rafael, vou te falar uma coisa. Serviço prestado tem que ser pago. O serviço foi prestado. Isso é apropriação indébita, enriquecimento ilícito,'” relatou Rafael. Ele explicou como essa retenção resultou em uma situação financeira crítica, levando a débitos e processos judiciais.

Rafael mencionou uma entrevista na própria rádio Cidade, onde o prefeito disse: “Nós já pagamos. Agora nós vamos ter que pagar o pessoal de novo.” Ele ficou indignado com a situação e desabafou: “Se ele mostrar que me pagou esses três meses, eu enfio o contrato lá e enterro.”

CABIDÃO DE EMPREGOS
E FUNCIONÁRIOS FANTASMAS

No áudio, Rafael expôs um esquema de “cabidão de empregos,” onde funcionários eram indicados por políticos. “Pra você ter uma ideia tem vereador que ganhava mais de 10 paus por mês com isso.”

Ele mencionou também casos específicos, como o da ex-vereadora cassada, Alessandra Bueno, que trabalhava no ginásio de esportes e recebia um salário de R$3.000,00 sem constar na GFIP da prefeitura. “Ela estava na minha folha de pagamento. Ela trabalhava no ginásio de esporte, no pátio,” explicou Rafael. Ele também mencionou pressões e ameaças que recebeu de Alessandra quando não conseguiu pagar esses funcionários. “Quando foi pra te contratar você procurou quem? Ah, o Paulo que me chamou. Vai até o Paulo e fala que você quer receber,” relatou ele, descrevendo as dificuldades que enfrentou.

Rafael detalhou ainda como era pressionado a contratar pessoas indicadas por políticos, mesmo quando elas não desempenhavam funções reais. “Me mandaram uns 5 ou 6 currículos, que eram indicação do Le… Passaram uns 15 dias, o … se desentendeu lá, não sei como foi. Manda eles embora. Era desse jeito. Muito complicado,” afirmou.

FALTA DE ESPAÇO NA MÍDIA
PARA EXPOR A SITUAÇÃO

Rafael lamentou a falta de espaço na mídia para expor sua situação e contar sua versão dos fatos. Ele tentou várias vezes dar entrevistas para jornalistas como Julião, Concom e Cléber da Record, mas teria sido ignorado. “Procurei o Julião, procurei o Concom. Procurei esse pessoal, eles disseram: ‘Você é anunciante nosso, mas o que eu posso te falar? Posso te ouvir, mas não posso falar coisas comprometedoras.’ Até o Cleber da Record se recusou a me entrevistar,” contou Rafael. Ele destacou suas tentativas persistentes de contato e a dificuldade em obter uma plataforma para expor sua situação.

Sobre o contato com o prefeito, o empresário destacou: “Sempre mandava perguntas e ele nunca me respondeu, mas sempre visualizou,” disse Rafael, mostrando sua frustração.