Um segmento está sentindo fundo na pele os efeitos da greve da Polícia Civil. Com a paralisação a documentação de um veículo já está demorando oito dias para ser concluída, segundo apurou na tarde desta sexta-feira, dia 26, a reportagem desta Folha, com profissionais da área. Os escritórios de despacho policiais, responsáveis de grande parte do encaminhamento, já começam a encontrar problemas com seus clientes.

O despachante Luiz Fernando Cizoto, por exemplo, reclama que a emissão de documentos está bastante lenta. Normalmente, segundo ele, uma transferência de um veículo zero quilômetro demorava cerca de três dias úteis. "Agora, com a greve, cerca de uns sete, oito dias úteis", disse.

Pior que não há o que explicar ou justificar se o cliente tiver o veículo apreendido numa fiscalização de trânsito da Polícia Militar. Ele, pelo menos, ainda não chegou a enfrentar esse tipo de problema, mas alerta que há multas, guincho e as diárias do pátio do Detran que deverão ser pagas pelo proprietário.

O despachante Aparecido Donizete Batista Gonçalves, "Fram-Frim", também reclama da demora. Nesta semana, segundo disse, a situação ficou um pouco mais complicada: "até então vinha emitindo mais documentos na Ciretran, mas parece que essa greve não tem tomado o rumo que eles têm esperado e eles vêm fechando um pouquinho mais o círculo e não estamos conseguindo mais".

E acrescentou: "estamos retirando, mas com menos freqüência e menor quantidade. O atendimento já está mais precário e já estão deixando de atender algumas coisas. Estamos torcendo para que tenha uma decisão e tudo volte a transcorrer normalmente, como antes".

Fram Frim relatou ontem que aguardava documentos que deu entrada na quinta-feira da semana passada, dia 18, mas não atribui todo o atraso à greve, porque sabe que outros problemas que aconteceram na Ciretran podem ter contribuído, também. Um deles, por exemplo, é que o delegado que tem assinado os documentos vem de Barretos em dias alternados e por causa da greve pode ter alterado a programação.

Ele orienta a quem tem a carteira de habilitação para renovar ou o licenciamento do veículo para pagar, que não deixe para os últimos dias: "procure um escritório com antecedência porque mesmo com a greve, às vezes você consegue contornar uma série de situações desagradáveis".

Para o despachante Ítalo José Vergamini, o reflexo da greve começou a ser sentido agora, porque a documentação dada entrada antes teve andamento normal e agora parou: "estão contando cinco dias úteis após a emissão da entrega e isso, na prática, dá em torno de oito a dez dias", relata ainda com otimismo.

Veículo apreendido

Vergamini contou que um cliente teve o veículo apreendido, mas conseguiu liberar o documento para acertar a situação: "a princípio o delegado disse a ele que não soltaria, mas após conversar o delegado entendeu que o prejuízo seria somente do cliente, então ele autorizou a liberação".

O despachante lamenta a situação: "a reação, infelizmente, não é boa da parte do contribuinte, que sempre culpa alguém e, sempre acaba sobrando para o escritório, mas para a gente, quanto mais serviço acumulado é pior, mais tempo a gente perde e o prejuízo é muito grande para quem está tirando carro zero. Eu tenho documento de carro zero com 14 dias".

O problema atinge de forma geral no setor. Na semana passada, o despachante Emerson Gustavo Zamariolo Baldan, já reclamava da demora para a liberação de documentos: "não está sendo feita a liberação lá na delegacia, não estão saindo documentos. No período normal é uma média de cinco dias úteis. Agora com essa greve não tenho previsão".