02 de dezembro | 2024
Buscas por jovem de Olímpia desaparecido na Cachoeira do Talhadão entram na segunda semana
Família denuncia descaso das autoridades, e tragédia expõe falhas graves na segurança de local turístico em Palestina (SP).
Desde o dia 24 de novembro, o garçom Edson Ramos, de 24 anos, segue desaparecido após ser levado pela correnteza na Cachoeira do Talhadão, em Palestina (SP). O caso tem mobilizado buscas intensivas do Corpo de Bombeiros de São José do Rio Preto e gerado fortes críticas à falta de fiscalização e sinalização no local, conhecido por atrair turistas de diversas regiões.
Edson participava de um retiro religioso com amigos quando foi surpreendido pela força das águas do Rio Turvo. Segundo testemunhas, ele tentou se segurar em um tronco, mas foi arrastado pela correnteza. A tragédia chamou atenção para a ausência de medidas de segurança, como placas de advertência, salva-vidas ou controle de acesso, em um local que é, paradoxalmente, tanto uma área turística quanto uma reserva legal.
A Prefeitura de Palestina afirmou que o acesso à cachoeira é proibido e que placas foram instaladas, mas teriam sido removidas por vândalos ou queimadas em incêndios recentes. Moradores e visitantes questionam a veracidade da alegação, destacando a ausência de fiscalização contínua e a falta de barreiras físicas que impeçam o acesso.
DESAFIOS DAS BUSCAS
As operações de busca pelo jovem entraram na segunda semana e continuam enfrentando dificuldades significativas. A força da correnteza, os obstáculos submersos e a baixa visibilidade da água tornam o trabalho de resgate lento e perigoso.
“O local é extremamente desafiador. Estamos utilizando embarcações em trechos navegáveis, percorrendo as margens a pé e explorando áreas onde o jovem pode ter ficado preso. A geografia do rio limita muito as operações”, explicou a tenente Maiara Prado Carbonera, do Corpo de Bombeiros.
Segundo o tenente Guilherme Pavan, mergulhadores não podem atuar em áreas com correntes tão fortes, o que concentra os esforços nas margens e em bolsões de água. “O rio é traiçoeiro, e as condições naturais tornam o trabalho arriscado, mas estamos empenhados em dar respostas à família”, afirmou.
FAMÍLIA EXIGE JUSTIÇA E MAIS ESFORÇOS
Elizabeth Ramos, mãe de Edson, expressa angústia e indignação com a situação. Para ela, a falta de prevenção foi determinante para a tragédia. “Como dizem que é proibido, mas não colocam placas nem têm fiscalização? Isso é descaso com a vida das pessoas. O que aconteceu com meu filho poderia ter sido evitado”, desabafou.
Além disso, Elizabeth critica a falta de recursos tecnológicos nas buscas. “Perguntei sobre drones e cães farejadores, mas os bombeiros disseram que não têm equipamentos suficientes. É revoltante saber que há tanto descaso, tanto na prevenção quanto na operação de resgate”, lamentou.
UM PONTO TURÍSTICO SEM ESTRUTURA
A Cachoeira do Talhadão é conhecida por sua beleza natural e atrai pescadores, famílias e grupos religiosos, mas a falta de estrutura e segurança evidencia a negligência do poder público. Apesar de ser considerada uma área de preservação, o local recebe visitantes regularmente, sem qualquer controle efetivo de acesso.
“Vi o Edson ser levado pela correnteza. As pessoas subestimam a força da água e a falta de sinalização deixa todos vulneráveis”, relatou Érico Maioli, engenheiro agrônomo que testemunhou o acidente.
Especialistas ressaltam que a beleza de áreas naturais não deve sobrepor a responsabilidade com a segurança dos visitantes. “A ausência de placas, salva-vidas e fiscalização é inaceitável. O poder público tem o dever de tornar esses espaços acessíveis, mas com segurança garantida”, afirmou um guia turístico local.
FALHAS NA GESTÃO DE ÁREAS NATURAIS
O desaparecimento de Edson reacendeu o debate sobre a gestão de áreas turísticas e de preservação ambiental. A falta de medidas concretas para prevenir acidentes em pontos turísticos populares tem sido alvo de críticas recorrentes.
Em nota, a Prefeitura de Palestina justificou que a área é de acesso proibido e que a instalação de sinalização é dificultada por atos de vandalismo. Moradores da região contestam a explicação, afirmando que a ausência de fiscalização é um problema antigo.
“Se sabiam que o local era perigoso, por que não interditaram? Não adianta dizer que é proibido se nada é feito para garantir isso. É uma tragédia anunciada, e as autoridades precisam ser responsabilizadas”, declarou um visitante.
REPERCUSSÃO E AÇÕES FUTURAS
A tragédia mobilizou amigos e familiares de Edson, que organizam correntes de oração e acompanham as buscas de perto. A comunidade de Olímpia, cidade natal do jovem, também tem se manifestado em solidariedade à família.
Elizabeth Ramos destaca a importância de ações preventivas para evitar que casos semelhantes aconteçam. “Não quero que outra mãe passe pelo que estou passando. Essa tragédia não pode ser esquecida”, afirmou.
Enquanto as buscas continuam, o caso expõe a negligência histórica na gestão de áreas naturais no Brasil, onde a falta de planejamento e fiscalização coloca vidas em risco. O desfecho, ainda incerto, deixa marcas profundas na família de Edson, que espera por respostas e mudanças efetivas.
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