31 de agosto | 2008

Bebê sem cérebro não tem vida nem durante período de gestação

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 A vida é comandada pelo cérebro mesmo quando o bebê ainda está em período de gestação. "Isso é uma coisa mais do que sabida", afirma o ginecologista Nelson Odair Gianotto (foto), entrevistado nesta semana pela reportagem desta Folha, sobre a interrupção da gravidez quando se tem plena certeza de que se trata de uma criança com anencefalia, ou seja, que não teve a formação do cérebro com perfeição durante a gestação.

Por isso, nesses casos, Gianotto é favorável a interrupção da gravidez. "No caso do anencéfalo ou da má formação fetal em que não houve desenvolvimento cerebral, sem dúvida alguma sou totalmente favorável", reforça.

O ginecologista ressalta que a gravidez sempre gera a expectativa para que ao final da gestação se tenha um bebê e também uma mãe saudável. Ele entende que é "inadmissível" (sic) que uma mulher carregue nove meses um bebê em seu ventre e ao término, vá nascer um bebê que não tenha a menor chance de vida.

"Aliás, nem vida ele teve, porque o cérebro não foi formado. Simplesmente existe o batimento cardíaco. Sendo assim, sou totalmente favorável à interrupção dessa gestação numa fase precoce. Isso, sem dúvida nenhuma, vai trazer um sofrimento muito menor para toda a família e isso para mim é uma coisa lógica", acrescenta.

Porém, a interrupção da gravidez deve ser muito criteriosa. Em primeiro lugar, explica Gianotto, é preciso ter certeza do diagnóstico. "Uma vez que haja a certeza é lógico que terá que comunicar os pais e essa decisão, sem dúvida alguma, deverá partir da mãe e do pai", comenta.

Ressalvou ainda que os pais têm que estarem muito conscientes e sabendo de tudo o que vai acontecer: "Na realidade o feto foi concebido pelos pais, é fruto do amor entre o casal. Portanto, nada mais justo que eles tenham a decisão sobre isso, desde que eles saibam e sejam realmente bem orientados".

A importância da orientação médica é muito importante para o casal ter conhecimento das chances vitais do bebê ao nascer e saber que as chances de vida de um anencéfalo, pós-nascimento, são bastante reduzidas. Gianotto entende que o bebê, nesse caso, nunca viveu porque não desenvolveu o cérebro.

"Simplesmente, terá o batimento cardíaco e a respiração já que o sistema neurológico dele não está desenvolvido. E, se é zero a chance de vida, não vejo porque levar uma gravidez nove meses para chegar ao final e saber que não haverá a vida. Eu não entendo como é possível se conceber que uma gestação chegue a tal ponto de nascer um ser humano nessas condições", argumenta o ginecologista.

Causas

A má formação fetal pode acontecer por uma série de fatores, inclusive, pelo fator genético. Mas, de acordo com Gianotto, não há uma regra definida para a má formação do feto: "existem "n" causas para isso, inclusive, medicamentosas".

Uma situação, "portanto, é importante que se diga", avisa o ginecologista, que pode acontecer com qualquer casal: "nenhuma mulher, a partir do momento que engravida, está livre disso (anencefalia). Existe uma pequena percentagem de má formação e vai acontecer mesmo. Infelizmente, é assim", explica.

Porém, o ginecologista observa com veemência que não é e nunca foi favorável ao aborto: "sou favorável à interrupção da gestação apenas no caso de má formação cerebral que não existe a chance de vida. Aborto, a meu ver, não pode e não deve ser praticado nunca. Isso, falando em vias normais. Não vejo outra justificativa".

 

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