05 de julho | 2010

Aluno sem conhecimento gera confusão na escola

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 Na avaliação do coordenador de ensino fundamental do ciclo II, João Ricardo Tauyr Vicente (foto), as brigas e agressões que ocorrem dentro das escolas, seja contra professores e funcionários, seja contra os próprios colegas, são geradas pela falta de conhecimento que ele sente durante uma aula de leitura, por exemplo.

Vicente diz que esse aluno é justamente aquele que chega na quinta-série, por exemplo, e ainda não aprendeu a ler. “Ele chega à sala de aula, o professor traz um texto ou uma história em quadrinhos e ele não sabe ler. Aí, ele vai atormentar os colegas causando incômodo ao professor”, diz. “O aluno que não sabe ler fica com vergonha”, enfatiza.


Para o coordenador de ensino, talvez o fato da escola ser, atualmente, mais inclusiva, tendo que dar abertura para o aluno, na realidade esteja atrapalhando. “O aluno está crescendo com esses vícios e chega ao ensino médio, praticamente semi-analfabeto”.


Porém, Vicente ressalva que para considerar um aluno analfabeto, atualmente, ele não pode saber absolutamente nada. “Antigamente era considerado analfabeto quem não sabia ler e escrever direito. Hoje, se o aluno escreve duas palavras não é mais considerado analfabeto”, afirma.

O problema é maior em alunos de quinta-série que vão sendo recuperados com o tempo. Tanto que chegam à oitava já em melhores condições. Há também, segundo ele, a recuperação paralela que, nesse caso, depende da aceitação do aluno.

“Tem muitos que não aceitam essa recuperação paralela. Com quinta série, a gente consegue encaminhar bastante, mas a partir de sétima ou oitava, eles se sentem como excluídos e ficam com vergonha”, acrescenta.


Há dificuldade para essa recuperação, no caso do segundo ciclo, a dificuldade é que a escola não está dotada de professores alfabetizadores, mas sim de áreas específicas. “Mas a gente tem que se virar e entrar nos projetos para ajudar esse aluno”, conta. No entanto, nem tudo é ruim no início do ciclo II.


“Temos também alunos de quinta-série que são excelentes. O que a gente questiona é como que pega uma classe de 30 alunos e tem, por exemplo, 20 que estão na média, cinco acima da média e os demais praticamente analfabetos, como se nunca tivessem ido à escola. Porque acho que de primeira a quarta o contato do aluno com o professor é maior. Ele tem um período maior. Acho que deveria ter um trabalho mais direcionado para esses casos. Nós pegamos, às vezes, alunos na quinta série que são praticamente analfabetos”, reclama.


QUESTÕES SOCIAIS

Além da questão sócio-econômica que envolve as famílias dos alunos, há também interferência do sistema. “Temos uma escola inclusiva, em que todos que entram têm que concluir os dois ciclos do fundamental e o médio. A gente tem que fazer uma avaliação diagnóstica, considerar o que ele aprendeu e levá-lo adiante”.

“Hoje, praticamente os alunos vão para a escola sem saber o que fazer. Não tem um princípio e uma seqüência de vida. O pai, às vezes, tem que trabalhar, a mãe trabalha também. O pai, às vezes trabalha de noite e tem que dormir durante o dia. Então, não tem mais esse contato e a escola vai assumindo todas essas responsabilidades e isso é complicado”, acrescenta.


Há, ainda, casos de famílias que são desestruturas em outros sentidos também. Alunos nessas condições são os que sempre acabam causando problemas, seja com funcionários da escola ou mesmo com os colegas de classe.


Vicente lamenta que somente os problemas que ocorrem como os casos de agressões, que às vezes ocorrem são tornados públicos. Ele cita que o trabalho pedagógico realizado muitas vezes é esquecido e pouco falado.


“Apesar de estar tudo contra o que a gente faz e às vezes ninguém fica sabendo. A gente fica triste com isso. Sai um empurrão entre dois alunos e todo mundo fica sabendo”, observou.

O coordenador reclama também da importância que os alunos dão, cada vez mais, aos telefones celulares, atualmente muito fáceis de serem adquiridos e mantidos por qualquer pessoa, mesmo que de um num nível social mais desfavorecido financeiramente.

“Falta leitura, incentivo da família, que está desestruturada. Esse método das novas técnicas de alfabetização, para mim, não funciona e a questão da tecnologia que também destrói o desempenho dos alunos”, finalizou.

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