04 de julho | 2010

Aluno chega ao ensino médio sem saber escrever corretamente

Compartilhe:
 

Uma discussão começa a aflorar sobre os resultados obtidos por alunos da rede pública de ensino, envolvendo o aproveitamento que se pode obter com o método considerado até moderno implantado no sistema. Por força da situação sócio-econômica, que inibe grande parte de ter acesso à leitura, além de outros fatores, o método de alfabetização pelo construtivismo começa a ficar na berlinda.

Embora não possa ser considerada regra geral, o fato é que tem aluno que chega ao primeiro ano do ensino médio sem saber escrever corretamente. A situação foi detectada pela reportagem desta Folha, em diversos contatos mantidos com pessoas ligadas ao setor da Educação nos últimos 30 dias.


Em um das escolas, por exemplo, um aluno que cursa o primeiro ano do ensino médio, demonstra claramente a situação que, se não for caótica, demonstra ao menos que o aproveitamento que teve desde que iniciou a vida escolar, no mínimo deixou a desejar.


De quem seria a culpa? Segundo foi apurado, são vários os fatores que podem interferir negativamente. Nesse caso, por exemplo, fica claro que a falta de leitura, não apenas na escola, mas mesmo antes, quando ainda dependia de um incentivo da família, tem grande importância.


Segundo o professor Ivo de Souza, que há décadas atua no magistério, é uma situação que tem de ser bem trabalhada. A leitura é importante para evitar esse tipo de problema “O som da nossa língua geralmente, não bate com a escrita. Isso dificulta para um aluno que não lê, ou seja, que não vê a palavra escrita, que é uma forma muito importante de gravar essa palavra”, define.


Mas além do sistema, a própria situação sócio-econômica acaba entrando na questão. Os casos mais complicados são encontrados em alunos que são obrigados a enfrentar a falta de melhor estrutura familiar. A situação é até remediada com o passar dos anos. Atualmente, com a escola definida como inclusiva, o aluno tem que ser promovido de qualquer maneira.


O que se pode até chamar de “briga” com as palavras começa a ser encontrado em alunos da quinta série. Estes trocam constantemente os caracteres, como no caso da palavra “desse”, do verbo dar. Pelo som da língua, o aluno escreve como se ouve, sem identificar as questões ortográficas e já manda um “dece”. Pela lógica esse aluno está correto! Ou não?


FALTA LEITURA

“Falta leitura, falta incentivo da família que está desestruturada. Esse método das novas técnicas de alfabetização, para mim não funciona e a questão da tecnologia que também destrói o desempenho dos alunos”, enfatiza o coordenador do Ensino Fundamental do Ciclo II, João Ricardo Tauyr Vicente.

É um problema de alfabetização e o construtivismo tem influencia. Antigamente, a criança era alfabetizada através do sistema tradicional, ou seja, da famosa cartilha Caminho Suave, mas numa visão considerada conservadora.


“Era para um público bastante diferenciado do de hoje, então, não é só metodologia, é também de perfil de aluno. Em uma escola que era bastante excludente, os alunos aprenderam”, explica a secretária municipal de Educação, Eliana Duarte Antônia Bertoncello Monteiro.


Mas, embora já não com professores alfabetizadores, os progressos surgem quando o aluno acessa o nível II e se sujeitam, quando aceitam, a aulas de recuperação paralelas e quando chegam à oitava, diminui a incidência do problema. Mesmo assim, encontra-se quem escreve, por exemplo, ‘incegurança’ ao invés do correto “insegurança”, ou ainda “tabalio” no lugar de “trabalho”.


CONSEGUE CONVERSAR

Porém, em todos os casos, sejam de alunos de quinta série ou de oitava do ensino fundamental ou mesmo do primeiro ano do ensino médio, percebe-se que o aluno tem idéias claras, demonstrando que o problema não está no aluno, mas sim na maneira como a alfabetização foi ou está sendo encaminhada. “Você pode vê-los passar na rua conversando com um amigo, então, conseguem desenvolver uma idéia”, observa Ivo de Souza.

Por outro lado, como a situação não é regra geral, há também alunos que demonstram resultados positivos, provavelmente porque recebem apoio de seus familiares. Estes, embora o sistema de apurar a caligrafia tenha sido extinto do currículo, escrevem e  demonstram resultados positivos.


CARACTERES TROCADOS

Embora em alguns casos o erro na escrita fique ressaltado (trabalho – tabalio), (tio – tiul), (bonito – brunito), (minha – milha), (embora – lhembora), (deu – deul), a maioria se refere a escrever como se fala: (morreu – moreu), (acima – assima), (insegurança – incegurança), (passeio – paceio), (inesquecível – inescecível), (serviço – serviso), (segurou – cegurou).

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas