05 de setembro | 2024

Advogada olimpiense fala sobre absolvição após ser acusada de liderar quadrilha em operação do Gaeco

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Após anos de desgaste emocional e pessoal, a advogada reflete sobre a injustiça das acusações, os danos irreparáveis causados pela mídia e comemora a absolvição definitiva do processo que manchou sua reputação.

A advogada Ana Paula Vargas de Melo, de tradicional família olimpiense, ex-coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da 12ª Subseção da OAB, foi uma das envolvidas na Operação Coiote, deflagrada em 2016 pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A operação investigava um esquema de extorsão de familiares de presos e falsificação de documentos judiciais, envolvendo advogados e servidores do Judiciário em Ribeirão Preto. Ana Paula, no entanto, sempre negou as acusações, sustentando sua inocência, que foi confirmada anos depois por sua absolvição definitiva.

O caso trouxe um grande abalo à sua vida pessoal e profissional. “Na época, foi um verdadeiro pesadelo. Me acusaram de ser a líder de uma quadrilha. Isso saiu em todos os jornais, na televisão, nas redes sociais. Entraram no meu Facebook e usaram fotos minhas sem nenhum critério, invadiram minha privacidade, e o pior: foram atrás da minha filha, que era adolescente, para fazerem insinuações e comentários maldosos”, relembra a advogada, emocionada.

CONSEQUÊNCIAS DA CONDENAÇÃO INJUSTA

Ana Paula enfrentou condenação em primeira instância, onde foi sentenciada a cumprir serviços comunitários, uma pena que já indicava a desproporção das acusações veiculadas pela imprensa. “Fui tratada como uma criminosa pela mídia, mas quando fui condenada, a pena foi apenas de prestação de serviços comunitários, o que já mostrava que não havia base para o que se dizia sobre mim”, afirmou.

Após a apelação, no entanto, a sentença foi aumentada para o regime semiaberto, gerando ainda mais desconforto e sensação de injustiça. Mas, com a interposição de embargos, finalmente foi reconhecido o erro e Ana Paula foi absolvida de todas as acusações. “Conseguimos mostrar que não havia nada de irregular no processo, e a Justiça me absolveu completamente. Essa decisão já transitou em julgado, ou seja, é definitiva. Não há mais volta. Eu estou absolvida”, comemorou.

IMPACTOS NA VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL

Apesar do alívio com o resultado final, Ana Paula afirma que as consequências do processo deixaram marcas profundas. “Eu tinha problemas de saúde que se agravaram durante o processo. Além disso, a desilusão com o sistema judiciário foi imensa. Fui condenada antes de qualquer julgamento pela mídia e pelo próprio Ministério Público, que tratou o caso de maneira leviana. Senti na pele a falta de compromisso com a verdade. Foi devastador para mim e minha família”, desabafou.

A advogada também ressaltou a importância do trabalho de sua defesa, conduzida pelo advogado Galib Jorge Tannuri, que desde o início acreditou na sua inocência e lutou incansavelmente até a absolvição. “O Dr. Tannuri foi uma peça fundamental em tudo isso. Ele nunca duvidou de mim, sempre me disse que eu seria absolvida, porque não havia provas concretas contra mim. E ele estava certo. Sou extremamente grata por tudo o que ele fez”, declarou.

DESILUSÃO COM A ADVOCACIA

Ana Paula, que antes da operação era uma advogada bastante atuante e respeitada, especialmente na Comissão de Direitos Humanos, acabou se afastando da advocacia devido à desilusão com o sistema. “Eu era muito envolvida com causas de direitos humanos, estava sempre em destaque na mídia pelos casos em que trabalhava. E, de repente, essa exposição se voltou contra mim de uma forma cruel. Me afastei da advocacia porque não conseguia mais acreditar no sistema judicial, e isso foi uma das coisas mais dolorosas”, lamentou.

Hoje, anos após o início desse processo, Ana Paula diz sentir que finalmente tem sua alma lavada. “Eu sempre soube que não tinha feito nada de errado. A Justiça demorou, mas foi feita. Embora as sequelas sejam profundas, hoje posso dizer que sinto minha alma lavada. Estou em paz com a minha consciência e feliz por essa decisão que finalmente pôs um ponto final nessa história”, concluiu.

REPERCUSSÃO DA OPERAÇÃO COIOTE

A Operação Coiote, na qual Ana Paula foi envolvida, apurava um esquema de extorsão que supostamente envolvia advogados e servidores do Judiciário. Na época, o caso ganhou grande repercussão na mídia, com acusações graves de compra de sentenças e extorsão de familiares de presos. Além de Ana Paula, outros advogados e um servidor da Justiça foram presos temporariamente, mas o processo mostrou que, em muitos casos, as acusações não se sustentavam, como ficou provado na absolvição de Ana Paula.

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