22 de novembro | 2022

“Tantas, Tantas Eram as Alegrias” – acontecimentos, dilemas, frustrações e violências

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Entre as Chamas, Sob a Água

Na aridez do sertão baiano, com armas em punho sob o sol escaldante, tropas avançam prontas para dizimar civis e enfrentar jagunços que têm como trunfo o conhecimento geográfico – e a capacidade de sobreviver em situação miserável. A fome, a desidratação, as feridas abertas, as privações de sono e descanso rondam ambos os lados, assim como os urubus se aglomeram ansiosos pelas sobras dos embates. Por esse cenário inóspito, Roosevelt Colini, que assina como R. Colini, convida o leitor a uma jornada de sobrevivência no livro “Entre as Chamas, Sob a Água”. O romance histórico retrata a brutalidade da Guerra de Canudos, em uma terra banhada em sangue e desesperança, onde a dignidade é arrancada e a humanidade se esvai. No meio desse massacre, que eviscerou ambos os lados, o protagonista, um jovem combatente do exército brasileiro, perde a empatia, a fé e o propósito. Acostumado às estratégias militares que forjaram os heróis nos campos de batalha, ele logo percebe o despreparo e a incompetência do exército para aquele cenário. O livro mostra que, sem instrução acerca do comportamento dos jagunços na guerra, o pelotão é surpreendido por um “inimigo invisível”. Para sobreviver, o soldado atravessa a trincheira e passa a combater os próprios colegas, enquanto sucumbe à solidão e ao odor podre da guerra. O personagem principal de “Entre as Chamas, Sob a Água” descreve na calada da noite os horrores que vivencia, com um pequeno lápis em papel. Para não ser descoberto, relata o drama no Arraial em francês, língua incomum aos envolvidos no conflito. Presenciar a barbárie das degolas, as condições insalubres nos acampamentos, as dores causadas pela fome, sentir o cheiro ocre do sangue misturado a fezes, urina e suor, arrancam a civilidade do protagonista, tornando-o cada vez mais solitário e silencioso. Nesta nova realidade, ele recebe a alcunha de Chico Mudinho e passa a conviver com personagens históricos, como Antônio Conselheiro e João Abade. Colini, autor do romance “Curva do Rio”, obra elogiada pela crítica e pelo público, prova que ainda existe um universo humano a ser explorado, interpretado e atualizado em relação a essa batalha histórica. O escritor oferece uma vigorosa composição literária para marcar uma parte da história brasileira que não deve ser esquecida. A saga do jovem oficial do exército não nos deixa esquecer de homens, mulheres e crianças que tiveram a existência apagada pairando entre o fogo e as águas que afundaram Canudos. Com 160 páginas, o livro é da Editora Labrador.

 

Um Mundo de Cores

Você já se perguntou qual é o significado da letra “A” na sigla “LGBTQIAP+”? A inicial se refere à assexualidade, uma orientação que engloba pessoas que não sentem atração sexual ou que podem ter atração, mas em situações específicas. Ainda há poucas referências em filmes, séries e livros, mas essa realidade está mudando com o movimento de artistas e autores dispostos a levar o protagonismo assexual às suas histórias. Virginia P. Pagliarin, autora da obra literária “Um Mundo de Cores”, é um desses nomes. A narrativa apresenta Camila, uma jovem brasileira que termina um namoro de longa duração por não se sentir confortável em manter relações sexuais. Desde o início, a personagem ressalta: não há nenhum problema com seu ex-namorado. Pelo contrário: ele é o homem ideal para muitas mulheres. Mas ela precisa priorizar suas vontades para entender a si mesma. É assim que a protagonista inicia uma jornada de autoconhecimento. Camila enfrentará a incompreensão de amigos de longa data, mas também fará novas amizades com pessoas que a aceitam como ela é. Sua virada vem com o acesso a um aplicativo de encontros, com o intuito de fazer pontes entre pessoas assexuais, quando Camila inicia um novo e “diferente” relacionamento. Mas os conflitos de Camila não se restringem à sexualidade: ela também sonha em se tornar uma escritora. Formada em Letras, trabalha em uma livraria e tem um emprego estável. Entretanto, isso não é o suficiente: ela quer contar histórias e decide escrever sobre o romance entre seu melhor amigo, Lucas, e o noivo dele, Pedro. Os dois, que estão em um relacionamento homossexual há anos, enfrentaram muitos preconceitos até se autoafirmarem como homens gays. No enredo de “Um Mundo de Cores”, os leitores que também não se encaixam nos padrões aceitos socialmente encontrarão identificação na história de Camila. É justamente esta a intenção da autora Virginia P. Pagliarin: mostrar empatia por meio de referências positivas e deixar claro que cada pessoa é muito maior do que a própria sexualidade. Com 174 páginas, o livro é da Editora Viseu.

 

Tantas, Tantas Eram as Alegrias

Os acontecimentos, dilemas, frustrações e violências responsáveis por moldar os posicionamentos e crenças políticas de George Orwell, autor de clássicos da literatura como “1984” e “A Revolução dos Bichos”, ganham evidência em terras tupiniquins com o lançamento da Graphic Novel “Tantas, Tantas Eram as Alegrias”, pelo selo Minotauro da editora Almedina Brasil. Adaptada de um ensaio autobiográfico homônimo, a obra cobre o período da infância de Orwell e escancara os desafios enfrentados pelo autor em um internato para filhos de cidadãos da alta classe da sociedade inglesa. Surras com chibatadas como punição por ter feito xixi na cama e o lembrete constante dos colegas de que ele era o garoto “pobre e bolsista” da turma são alguns dos episódios ilustrados. Inspirado em “The Echoing Green”, canção do poeta William Blake, o título do livro tem apelo completamente irônico, uma vez que as memórias apresentadas podem provocar no leitor sentimentos como indignação, fúria e revolta, mas pouca ou nenhuma alegria. Ambientadas em um período anterior e durante a 1ª Grande Guerra Mundial, as passagens narradas oferecem um vislumbre das contradições entre as visões de mundo de ricos e pobres, além de expor os desconfortos causados pelos conflitos de classe que perduram até hoje. O texto de Orwell foi adaptado para o formato de Graphic Novel pelo multipremiado escritor de quadrinhos Sean Michael Wilson, autor de mais de 40 livros e coautor de “Parecomic”, prefaciado pelo linguista norte-americano Noam Chomsky. Já as ilustrações ganharam vida pelas mãos de Jaime Huxtable, cartunista e ilustrador inglês que tem entre seus trabalhos “G Bear & Jammo” e “Makers of Monsters”. Em “Tantas, Tantas Eram as Alegrias”, a violência dos professores e o constrangimento a que Orwell era diariamente submetido saltam das páginas. A imagem desse mundo cruel visto pelos olhos inocentes de uma criança se justapõe às reflexões da maturidade sobre o que esse tipo de escolarização diz da sociedade em que vivemos e apresenta as raízes das críticas ao poder e à autoridade tão presentes em suas obras atemporais. O livro tem 112 páginas.

 

ExOr Inteligente

A cada dez instituições que oferecem o curso de Direito no país, nove delas tem menos de 30% dos alunos aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Foi pensando nos futuros juristas brasileiros que o advogado Paulo César Reyes e o juiz federal Eduardo Palmeira desenvolveram o “ExOr Inteligente”, método que dá nome ao livro publicado pela Citadel Editora. O conteúdo é baseado nos princípios do escritor norte-americano Napoleon Hill, cujo presidente da fundação no Brasil, Jamil Albuquerque, é prefaciador da obra. Nela, os autores mostram como ser aprovado de primeira na prova da OAB, a partir de quatro perguntas principais: quanto estudar? O que estudar? Como estudar? E, como fazer provas? Entre as principais lições está a organização do tempo de estudos. Segundo Reyes e Almeida, é preciso estudar entre 20 e 40 horas semanais, de maneira direcionada, para conseguir alcançar a pontuação necessária e conquistar o título de advogado. Além disso, é necessário saber o peso que cada área do Direito terá no exame. No cronograma semanal proposto, os especialistas indicam como fazer a separação do tempo por área de estudo. O calendário é dividido em 14 semanas, tempo médio entre a realização das provas pela OAB. Desta forma, os alunos conseguem estudar e revisar os conteúdos, além de realizar simulados que ajudam na preparação para o teste. Em “ExOr Inteligente”, os autores explicam ainda como realizar as duas etapas (objetiva e prático-profissional) do exame, ensinam técnicas de memorização a serem aplicadas durante e após os estudos e disponibilizam planilhas, códigos e banco de tópicos para ajudar os candidatos a conquistar o título de advogados.“O método ‘ExOr Inteligente’ pegará na sua mão desde o primeiro minuto de seu ciclo de estudos até o momento em que você entregar a prova à FGV (Fundação Getulio Vargas, organizadora do certame)”, afirmam Reyes e Almeida. Para eles, o principal objetivo do método é contribuir, através do ensino estratégico, para formar os futuros juristas do país. O livro tem 304 páginas.

 

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