01 de março | 2023

“Perfeição Desfeita” – uma obra sobre a humanidade

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Maria Flor, a Última Ararinha-Azul

Maria Flor é a última ararinha-azul do mundo. Ela é órfã, porque seus pais e irmãos foram capturados por traficantes de animais silvestres. Apesar do passado trágico e da solidão, sonha com o dia que encontrará outros de sua espécie. Por isso, escreve cartas e as envia para todos os lugares com a vontade de, um dia, conhecer alguém para amar e ter filhos. A personagem de “Maria Flor, a Última Ararinha-Azul”, obra do autor Xico Farias, vive em Assaré do Alto, no sertão brasileiro. Na vizinhança pacata, os problemas que afetam a população foram normalizados pela comunidade: as mulheres cuidam sozinhas de seus filhos enquanto os maridos ganham sustento nas grandes capitais do Sudeste; de longe, os homens relatam a xenofobia dos “sudestinos”; a seca também sempre é um perigo iminente. É neste lugar calmo que um crime está prestes a acontecer. Fausto, um fabricante de chapéus, diz a uma mulher vaidosa que é possível fazer uma peça exclusiva com as penas da última ararinha-azul existente. Repleto de soberba, ele vai atrás de Maria Flor para sequestrá-la e executar o plano. O autor atravessa temas sociais e ambientais com uma linguagem acessível para jovens leitores. De uma maneira leve e lúdica, Xico Farias aborda, além da extinção da ave rara originária da Caatinga brasileira, o tráfico de animais silvestres, a preservação da natureza, a vida do sertanejo e a cultura nordestina. Também introduz elementos da fauna do Nordeste: bichos como a cutia, a seriema e o cardeal-do-nordeste ganham destaque na trama. O livro reforça o compromisso do escritor cearense de dialogar com crianças e adolescentes sobre questões relevantes no Brasil. Seu primeiro romance, “As Aventuras da Ratinha Cantora de Ópera na Cidade Maravilhosa”, é uma fábula que remete ao período da ditadura militar. “A arte permite um olhar ampliado sobre as questões contemporâneas, sem deixar para trás o passado e ficando atento ao futuro”, diz o autor. Com 168 páginas, o lançamento é da Editora Flamingo Edições.

 

Perfeição Desfeita

Nem toda história precisa ter um protagonista, pode ter vários. Em “Perfeição Desfeita”, o escritor paulista Sidnei Luz traz essa proposta e vai além. Apesar de escrita em primeira pessoa, nenhum dos quatro personagens é o narrador. A consciência coletiva é o “quinto elemento” revelador das nuances nesta ficção cujo enredo se propõe a dialogar sobre as consequências da busca pela perfeição. A narrativa perpassa mais de sete décadas e três gerações de uma família de migrantes nordestinos. De início o leitor é apresentado a Geralda e Francisco, casal do interior de Pernambuco que em 1980 se muda para São Paulo em busca de emprego e melhores condições de vida. O que se apresenta, porém, são problemas como alcoolismo e dificuldades financeiras. Na capital eles também geram Ângela, uma menina albina e de saúde debilitada, que passa a sofrer bullying na escola. No decorrer dos anos, após uma sequência de abusos, ela já adulta decide ser mãe, e opta pela inseminação artificial. O médico, entretanto, propõe uma manipulação genética, a fim de gerar um filho “perfeito”. Assim nasce Ézio. Ao se revelar com uma analgesia congênita, ele passa a ter seu convívio social restrito. A periclitante convivência nas redes sociais é mais uma das problemáticas introduzidas ao enredo, que aborda outras questões inerentes ao comportamento humano e a uma sociedade excludente e preconceituosa. Padrões de beleza, discriminação econômica e social, política, hegemonia de raça e de poder fazem de “Perfeição Desfeita” também uma obra sobre humanidades. Além de adultos interessados em História, Filosofia, o livro é recomendado a todos aqueles que se propõem a pensar sobre problemáticas sociais. Com 162 páginas, o livro é da Editora Kotter Editorial.

 

O Segredo do Rei

Do Paraná à Bahia, o engenheiro civil Douglas Portelinha morou em diferentes estados brasileiros. Por conta da profissão, também viveu em outros seis países: República Dominicana, Nicarágua, Honduras, Panamá, Angola e Argentina. A experiência com tantas viagens serviu de inspiração para o enredo de “O Segredo do Rei”. A trama internacional é ambientada nas Grandes Navegações. No meio do processo de exploração do Oceano Atlântico e Pacífico, datado entre os Séculos XV e XVI, uma peripécia envolve a chefe de uma agência de espiões, um cavaleiro templário e um rei ambicioso. Todos lutam pelo controle de dois livros importantes: “Mundus Novus”, com propagandas do Novo Mundo, e “Summa Oriental”, que contém registros de portos e regiões com especiarias. Fatos históricos estão presentes durante a narrativa. Há, por exemplo, a introdução sobre o “Robô de Leonardo”, criado por Leonardo da Vinci. Em 1495, o pintor, arquiteto e engenheiro apresentou ao tribunal de Milão uma máquina robótica operada por roldanas e cabos. O objeto era funcional e podia replicar alguns movimentos. A trajetória de Fernão de Magalhães, navegador português conhecido por ter realizado a primeira viagem marítima ao redor do mundo, também aparece no romance. Um ano após entrar no navio, ele morreu em Mactan, nas Filipinas, depois de se envolver em um combate com os moradores da ilha e ser preso em uma emboscada. Mas uma personagem-chave do enredo é a filha de Américo Vespúcio, explorador responsável por escrever sobre o então “Novo Mundo” para os reinos da Espanha e de Portugal. Na narrativa, a sucessora do navegador comanda uma agência de espiões que tem por objetivo proteger os livros “Mundus Novus” e “Summa Oriental” dos inimigos. Com 490 páginas, o lançamento é do Grupo Editorial Atlântico.

 

Um Burnout para Chamar de Seu

“Qual o preço do sucesso?” Essa é uma pergunta clichê que, muitas vezes, passa desapercebida, porém é algo determinante para qualquer pessoa seja em qual área for: profissional, amorosa, familiar… Para muitos, o assunto ainda é algo estereotipado, mas a Síndrome de Burnout é real e já está tomando proporções epidêmicas, com diversas vítimas em todo o mundo. A dermatologista Paula Sian Lopes sempre acreditou que dedicar-se incansavelmente à sua carreira era a escolha mais inteligente. A profissional almeja grandes voos, e muitos deles já foram realizados. O trabalho sempre foi uma válvula de escape para fugir de aflições pessoais e, por esse motivo, não percebia que a cada dia estava mais imersa neste quesito. Até que em 2020, entre seus atendimentos e sob pressão, teve um ataque de pânico. Sua crise foi tão intensa, que após um atendimento médico, foi imediatamente afastada por tempo indeterminado de suas funções. “Minhas jornadas de trabalho eram intensas, sem contar os intermináveis cursos e especializações que me matriculava a todo momento. Essa dedicação era um mecanismo de defesa para fugir de um relacionamento amoroso abusivo em que estava e atender as expectativas dos meus pais ao longo de minha vida”, relata a dermatologista. Paralelo aos problemas pessoais, Paula também estava enfrentando uma relação tóxica com sua chefe no ambiente corporativo. A exaustão foi tanta que seu cérebro literalmente ‘pifou’. Segundo a dermatologista, seus dias eram aterrorizantes, com episódios longos de muitas lágrimas, tristezas e melancolias. Uma de suas primeiras decisões foi pedir demissão do trabalho e, na sequência, sair do relacionamento abusivo. De acordo com a autora, passar pelo processo foi doloroso, porém transformador a ponto de tornar-se um livro onde relata sua trajetória – desde os gatilhos de infância, até os problemas que, como diz, “foram a gota d’água para sua primeira e mais grave crise”. Sua intenção nunca foi escrever uma obra científica sobre diagnóstico e tratamento, e sim proporcionar uma experiência de vivência real da doença do ponto de vista do ser humano. Com 170 páginas, o livro é um lançamento da Editora Viseu.

 

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