16 de setembro | 2012

Os padrões de beleza impostos pela mídia te escravizam?

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Cuidar do corpo respeitando os seus limites é uma maneira saudável não somente de manter a forma como de cuidar da própria saúde / GB Imagem

 

 

Emagrecer a qualquer preço é a grande armadilha para mulheres e homens que tem sua autoestima baixa. Saber reconhecer os limites do próprio corpo é o primeiro passo rumo a verdadeira beleza / GB Imagem

 

 

Não resta dúvida nenhuma que o padrão de beleza apregoado é ser magra ou magro. Quem sai fora disso, é tido como fora do padrão e tem dificuldade em encontrar roupas que vistam bem o seu corpo, principalmente se buscar algo fashion (ou aquilo que “está na moda”), pois tudo parece ter sido costurado para os manequins 38 a 42, embora algumas confecções já tenham se ligado que é preciso colocar os pés no chão e prestar mais atenção nas tendências genéticas da mulher brasileira.

Uma mulher que veste 46 pode passar pelo constrangimento de ouvir “ah, não temos o seu tamanho”, da boca da vendedora que se comporta como se o número do vestido pedido é coisa de outro mundo, quando na verdade, uma mulher vestir manequim 46 é algo perfeitamente normal e compatível, mas eis que os padrões de beleza não aceitam isso.

O resultado é que temos uma multidão de mulheres insatisfeitas consigo mesmas.  Os números comprovam: dois terços das mulheres entre 15 e 60 anos de idade evitam atividades básicas da vida porque se sentem mal com sua aparência; mais de 92% das garotas declaram querer mudar pelo menos um aspecto físico; nove entre dez mulheres querem melhorar alguma coisa no corpo. Os dados são da pesquisa mundial desenvolvida por uma famosa marca de cosméticos. A realidade dos números é cruel. São raras as mulheres satisfeitas com a sua beleza. A maioria corre atrás do padrão estético das beldades que posam para revistas e desfilam na TV. Quem não se encaixa nele – quase 90% – sente-se excluída e humilhada e tende a aceitar qualquer sacrifício em nome da "beleza ideal". Diante desse quadro, cabe perguntar: como as mulheres chegaram a esse ponto, depois de tantas conquistas importantes no último século? Quais são as consequências dessa obsessão para as adolescentes? Onde entram as "diferentes" (gordinhas, velhas e negras) nesse sistema? Por que é tão difícil aceitar a diversidade da beleza?

Em busca de respostas, a psicóloga Rachel Moreno escreveu o livro “A Beleza Impossível – Mídia, Mulher e Consumo” (Editora Ágora). Citando o estudo feito pela multinacional da área de cosméticos, ela condena o ataque diário da mídia e faz um alerta: existe uma possibilidade real de o excesso de vaidade se tornar um problema de saúde pública, dada a interferência da mídia, da publicidade e dos interesses do mercado na formação das crianças e adolescentes. "O ideal de beleza cria um desejo de perfeição, introjetado e imperativo. Ansiedade, inadequação e baixa autoestima são os primeiros efeitos colaterais desse mecanismo. Os mais complexos podem ser a bulimia e a anorexia", afirma Rachel, lembrando que mesmo as mulheres adultas podem ter sua estabilidade emocional afetada.

E que jogue a primeira pedra a mulher que nunca se sentiu acuada pelos padrões de beleza ditados pela mídia.

A autora propõe uma discussão entre mulheres, homens, pais e educadores sobre a forma como a mídia mexe diariamente com a autoestima feminina. Ela alerta para os malefícios dessa imposição social e ensina a reconhecer os limites da ditadura da beleza, apontando caminhos para quem deseja se defender dessa influência insidiosa.

As brasileiras, segundo a pesquisa, estão entre as que têm a autoestima mais baixa, muito provavelmente em consequência do modelo de beleza eurocêntrico e inalcançável para a realidade nacional. De acordo com o levantamento, elas se submeteriam a todo tipo de intervenção estética para se sentir belas.

Os dados, explica a autora, podem ser comprovados cotidianamente. Só em 2003, as brasileiras gastaram R$ 17 bilhões na compra de produtos cosméticos e de perfumaria. O Brasil também apresenta o maior índice de mulheres que declaram ter feito cirurgia plástica. Outros estudos revelam ainda que a população feminina no Brasil, comparativamente, é a que mais se submete a sacrifícios pela "beleza". Isso inclui dietas, malhação, remédios, cosméticos e toda a parafernália oferecida para alcançar o inalcançável.

"A mulher brasileira busca se aproximar da silhueta típica das européias (mais longelíneas) ou das americanas (de seios mais fartos). As mulheres estão bastante desconfortáveis consigo mesmas. Desconfortáveis e provavelmente com sentimento de culpa. Uma geração com baixa autoestima. A quem serve isso?", questiona Rachel.

Com depoimentos, reprodução de casos e dados históricos e culturais sobre moda e beleza, o livro reúne argumentos valiosos;  Rachel propõe uma mudança de consciência que beneficiará enormemente as futuras gerações, com mulheres mais autoconfiantes e jovens menos vulneráveis.

Atentas às armadilhas consumistas, as mulheres serão cada vez menos escravizadas pela cobrança estética e mais dedicadas às questões realmente relevantes à sociedade. "É preciso garantir, para além das condições de saúde e bem-estar de todos, a beleza da diversidade e a diversidade da beleza", conclui a psicóloga.

Rachel Moreno, a autora do livro “A Beleza Impossível – Mídia, Mulher e  Consumo” é formada em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Fez especialização em Sexualidade Humana e Dinâmica do Movimento Expressivo no Instituto Sedes Sapientiae, além de ter estudado terapia corporal com J. A. Gaiarsa. Tem pós-graduação em Meio Ambiente pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

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