06 de julho | 2014

O mito Sílvio Santos

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Silvio Santos é personalidade única na história artística brasileira. Bem poucos apresentadores conseguiram manter o sucesso por tanto tempo / Roberto Nemanis

 


Sílvio Santos e suas inseparáveis “colegas de trabalho”. O animador e empresário criou um estilo que é sucesso há mais de 50 anos / Roberto Nemanis

 

 

 

Há quem diga que Sílvio Santos ficará na história da televisão brasileira como personalidade única; dificilmente haverá outro como ele, sem desmerecer os demais comunicadores e animadores de televisão.

O estilo de Sílvio Santos é único e seu domínio de palco é espetacular, fruto da experiência e de anos de convivência com suas “colegas de trabalho”, como ele mesmo costuma chamar as moças de sua plateia. Aos 83 anos de idade, seu fôlego é invejável, embora muitas vezes a sua voz não seja mais a mesma. No entanto, continua dando conta de seu programa e da administração do seu complexo de empresas. Há algum tempo, o empresário tratou de incluir as filhas no seu projeto de sucessão nos negócios e parece ter acertado na decisão, no entanto no palco ele continua insubstituível. Imitadores? Sílvio Santos tem alguns.

Dias atrás, ele foi notícia por causa de um tombo em seu programa quando fazia o sorteio da Telesena. Sílvio Santos não percebeu que havia um degrau no palco e caiu. Sem perder a pose e o riso, ele tentou levantar-se, mas não conseguiu; sentou-se no chão, continuou a conversa com o telespectador e foi ajudado por um dos assistentes a colocar-se novamente em pé. Tudo na maior naturalidade e com muito humor. Isto é possível somente para quem tem muito domínio de si mesmo e para quem conhece muitíssimo bem o seu trabalho.  

Sílvio Santos sempre procurou manter a sua vida pessoal longe dos holofotes; sempre gostou de dirigir o seu carro ele mesmo e passou a preocupar-se com segurança depois que uma de suas filhas foi sequestrada e pouco tempo depois, o sequestrador invadiu a residência do empresário fazendo Sílvio Santos e sua família reféns durante várias horas.

Não se tem notícias de Sílvio Santos em festas e badalações. Quando completou 80 anos, ele foi condecorado com a Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas, comenda entregue a personalidades que se destacaram no âmbito do trabalho, foi a filha Patrícia Abravanel quem recebeu a homenagem ao pai. 

E as homenagens continuaram. A sua outra filha, Daniela Beyruti, o representou nas comemorações dos 450 anos do Legislativo Paulistano e recebeu em nome do seu pai e do SBT o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo por sua contribuição na área de imprensa e comunicação.  

Quando se fala de Sílvio Santos, não são necessárias muitas explicações, ele tem luz própria. Para se ter uma ideia do fascínio que Sílvio Santos exerce, quando estourou a notícia dos problemas financeiros do empresário há três anos, uma fã se dispôs a fazer uma campanha de arrecadação para ajudá-lo naquele momento de dificuldades.

O fato é que Sílvio Santos criou um estilo, pode até ser considerado de ultrapassado, mas é digno de nota que se mantém no ar desde 1962 quanto estreou na TV Paulista com o programa “Vamos Brincar de Forca”. 

A vocação para falar às multidões apareceu cedo, logo aos 14 anos de idade. Tempos de dificuldades financeiras para a família Abravanel e o rapazinho Senor resolveu vender capas de título de eleitor numa banca de camelô. Eloquente e bem humorado, não demorou para conquistar os transeuntes e um fiscal da prefeitura que sugeriu que ele fizesse um teste na então Rádio Guanabara, atual Rádio Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Apesar de ter passado no teste, trabalhou apenas um mês como radialista, ele precisava de dinheiro e o comércio ambulante rendia mais.

Mas, o bichinho da comunicação tinha se enraizado nele e logo voltou ao rádio, desta vez em Niterói. Para ir ao trabalho, pegava a barca e logo percebeu que poderia usar o tempo da travessia a seu favor; montou um serviço de som veiculando músicas e anúncios de produtos nos intervalos. Com o tempo, foi ampliando o seu “negócio” e atuava também na barca que fazia o percurso até a Ilha de Paquetá; ele fez uma parceria com a Cervejaria Antártica passou a vender cervejas e refrigerantes, além de uma cartela de bingo através da qual o passageiro concorria a brindes. Sucesso absoluto.

E foi através da famosa cervejaria que Sílvio Santos migrou para São Paulo para trabalhar em bares, circos e caravanas de artistas, apresentando espetáculos e sorteios. Ganhou o apelido de “Peru que fala” e organizou o seu próprio grupo – a Caravana do Peru Falante – a qual percorria os bairros de São Paulo, cidades do interior e de fora do Estado.

Nesta época, a televisão estava em pleno auge e Sílvio Santos adaptou tudo que tinha aprendido em sua carreira mambembe em novos shows com apresentação de artistas – além dele próprio – e muitos sorteios. Aliás, esta seria a sua marca registrada, até hoje todos os seus programas contemplam alguma compensação para o público.

Praticamente na mesma época em que estreava na TV comprou o Baú da Felicidade e deu início a sua carreira de empresário; em meio à década de 1970 começou a sua saga para ter o seu próprio canal de televisão.

No ano de 1975 ganhou do Governo Federal a concessão da TVS e passou a atuar simultaneamente na TV Tupi e na TVS.

Em 1980, a TV Tupi saiu do ar e Sílvio Santos começou a mostrar o seu programa pela TV Record, da qual era dono de 50%, mas ele queria ter a sua própria rede de televisão.

A realização do sonho veio em 1981 quando obteve a licença para operar o Canal 4 em São Paulo, nascia o SBT – Sistema Brasileiro de Televisão – que rapidamente se expandiu com afiliadas em todo Brasil.

Sílvio Santos é conhecido também por administrar pessoalmente alguns setores de seus negócios, no SBT opina sobre tudo e sobre todos e a palavra final é sempre a sua, muitas vezes contrariando opiniões e soluções que seriam óbvias.

Quando o escândalo com o Banco Panamericano foi notícia, o Sílvio Santos empresário não mandou recados e nem representantes, ele mesmo foi a Brasília se entender com os interventores federais.

O grupo Sílvio Santos detém 37 empresas, com mais de 50 anos de atuação no mercado e empregando cerca de doze mil pessoas. Está aí a receita de sucesso de um dos homens mais conhecidos do povo brasileiro, ou talvez o homem mais conhecido do Brasil.

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