28 de julho | 2021

“Droga para Adultos” Está mais do que na hora de pessoas falarem abertamente sobre o uso recreativo de drogas

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Campo Santo

Esta última coletânea de escritos de W. G. Sebald, morto precoce e abruptamente em 2001, oferece reflexões profundas sobre muitos temas comuns na obra do autor, como o poder da memória e da história pessoal, as ligações entre imagens na vida e na arte ou a presença de espectros em lugares e objetos. O livro abre com alguns textos que prestam homenagem à Córsega, costurando o passado e o presente com elegância, e examinando, entre outras coisas, o efeito constitutivo da ilha no seu cidadão mais ilustre, Napoleão Bonaparte. Na segunda parte, composta de ensaios, Sebald examina, por exemplo, como as obras de Günter Grass e Heinrich Böll revelam a dificuldade dos alemães em lidar com o luto no pós-guerra; ou como Kafka faz eco do próprio interesse de Sebald pelas presenças fantasmagóricas entre os mortais; e como a literatura pode ser uma tentativa de restituição das injustiças do mundo real. Nabokov, Jean Améry, Peter Handke estão entre os que recebem uma leitura rica do escritor. Deslumbrante na sua erudição e acessível na sua profunda sensibilidade, este livro póstumo confirma Sebald como um dos grandes escritores modernos, que desvendou e expressou as muitas conexões invisíveis que determinam as nossas vidas. Com 272 páginas, o livro é da Editora Companhia das Letras.

 

Droga para Adultos

Está mais do que na hora de pessoas bem-sucedidas falarem abertamente sobre o uso recreativo de drogas – é o que defende o neurocientista Carl Hart neste livro corajoso e polêmico. Sem esconder sua condição de usuário, em total equilíbrio com uma vida plena e produtiva, ele ilustra os inúmeros benefícios do uso responsável por adultos e argumenta que o maior dano das drogas decorre de sua ilegalidade. Sua demonização e criminalização em países como os Estados Unidos e o Brasil têm sido um flagelo imenso, contribuindo para a discriminação racial, marginalização e mortes.
Essa, contudo, nem sempre foi sua visão. Por anos, Hart buscou provar que o uso de drogas é perigoso, até que os resultados de seus estudos não sustentaram mais tal hipótese. Em “Drogas para Adultos”, ele descreve sua luta para convencer outros pesquisadores da área de que atuam sob o véu do preconceito, impedindo a adoção de novos tratamentos e políticas humanas mais saudáveis; e narra sem hipocrisia por que decidiu não mais se calar diante da ideologia moralista e punitiva que cerca o tema. Com 408 páginas, o livro é da Editora Zahar.

 

A Extinção das Abelhas

“As pessoas vão embora, e isso é uma realidade”.  Assim começa “A Extinção das Abelhas”, novo livro de Natalia Borges Polesso. Nele, o leitor conhece a história de Regina: depois de ser abandonada pela mãe, ela foi criada apenas pelo pai, que faleceu quando a garota começava a entrar na vida adulta. As vizinhas, Eugênia e Denise, cuidam dela como podem, oferecendo afeto, dinheiro e uma vida em família que lhe faz falta. O círculo se completa com Aline, filha do casal e amiga-irmã de Regina. Sua perspectiva de mudar de vida é diminuta. Ao ver um anúncio na Internet sobre “camgirls”, Regina decide tentar a sorte. Então cobre a cabeça com uma máscara de gorila e encarna um lado seu que não conhecia. Ao se expor para desconhecidos na câmera e revolver os desejos e vergonhas desses homens, ela se defronta com os próprios sentimentos, fantasmas há muito enterrados em seu inconsciente. Ao criar um universo que é tão distópico quanto real, com uma galeria de personagens impressionantes que vão da tragicômica velhinha Dona Norma à corajosa Aline, a autora de “Controle” confirma seu domínio narrativo e constrói uma história sobre o colapso, mas também sobre salvação. Com 312 páginas, o livro é da Editora Companhia das Letras.

 

Manual do Minotauro

Laerte já tinha mais de três décadas de cartunismo e era uma das profissionais mais festejadas do Brasil quando decidiu reinventar tudo. Por volta de 2004, sua tira “Piratas do Tietê” abandonou os personagens recorrentes e os arremates cômicos para explorar o espaço daqueles três, quatro, quadrinhos com uma mistura de filosofia, metafísica, poesia, poucas certezas e muitas dúvidas. “Piratas” virou o “Manual do Minotauro” e entramos, junto a Laerte, no labirinto do ser mitológico. O desenho é o mesmo, exato na economia. O jogo entre nanquim, cor, forma e quadros ainda é referência de design. O texto continua enxuto, preciso. A narrativa é claríssima. Mas, ao mesmo tempo, algo vibra por baixo da aparente simplicidade. Deixem toda lógica e ordem cotidiana do lado de fora e preparem-se para uma das grandes aventuras do quadrinho contemporâneo. Com 416 páginas, o livro é da Editora Quadrinhos na Cia.

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